Festival de Fotografia Experimental em Barcelona EXP.23 • Um terreno ainda muito fértil

Logo que cheguei a Barcelona dessa vez corri para ver o que é um Punto Verd. Esses pequenos galpões, um em cada bairro, são locais onde as pessoas levam seus recicláveis mais complexos para ganhar uma nova vida.

Isso deixa muito pouco para os artistas encontrarem na rua, é verdade, mas a cidade fica mais limpa e alguns itens mais complicados ganham o tratamento correto. Isso é importante para o planeta.

E à porta de cada Punto Verd fica uma pequena estante para livros que podem ser retirados gratuitamente.

Ainda assim, vi alguns itens deixados do lado de fora das grandes lixeiras, alguns até com bilhetes, os espanhóis fazendo a coisa circular antes da reciclagem.

Reduzir, reaproveitar e reciclar (só no fim).

Depois passei pelo centro cultural onde rolava o festival e retirei meu crachá e outras coisas que eu precisaria para os próximos dias. Dali corri para a praia e refresquei minhas ideias. Estava muito pensativo. Tinha separado uma série nova de trabalhos para mostrar para algumas pessoas.

Essa série eram fotos que eu vinha fazendo em Portugal desde que cheguei. Entitulei o trabalho Aqui. Aqui é uma palavra muito usada pelos imigrantes, você pode imaginar porque.

Para acompanhar essas imagens, escrevi isso aqui:

“Immigrating upends life, resetting it. Often driven by a need to escape, it necessitates leaving behind dreams or paths that were already abandoned due to circumstances. Personally, I left my home country due to financial struggles and the disruption of my life path. While choosing to immigrate I accept these losses, the works I present here symbolize both a new beginning and a reminder of what was lost. In this new place, rebuilding seems daunting, so I make do with limited resources. What’s lost will remain lost. O que foi perdido, foi perdido. O que importa é o aqui e agora, e está pela frente.”

Acho que você também pode imaginar como foi dolorido escrever isso e olhar para essas imagens dessa maneira depois desses 4 anos nessa aventura. A edição era enorme, tinha 24 imagens, várias versões de algumas, para que esse crivo pudesse dar origem a algumas escolhas. O texto também tinha uma parte que era teste, não era algo definitivo, tinha minhas dúvidas ali.

Mas tudo bem, pensei um pouco mais e continuei, porque seria uma semana intensa.

O primeiro workshop que eu ministrei foi uma versão do Armadilhas para o Acaso. Ao invés de 4 encontros, fizemos em um único encontro e pude usar um laboratório, logo explorei isso no exercício que fizemos juntos.

Usamos diversas maneiras para velar papel antes de usar, com a intenção de criar uma nuvem preta/cinza sobre a imagem.

O workshop seguinte foi o clássico Construção de Câmara Digital Artesanal, com direito a uma apresentação da história do scanner no início.

E no sábado dei uma conferência sobre impressões únicas ou como desafiar a noção de reprodutibilidade mecânica.

Depois encerrei a semana na praia, refletindo sobre as coisas que vi e vivi. Voltei cheio de ideias, mas também sabendo que iria dedicar meu tempo a minha família, a minha nova cadelinha e ao meu emprego e que esse post levaria muito tempo para ser publicado.

Feira de Bièvres • Junho de 2023

Já falei aqui dessa feira que acontece todo início de Junho nessa cidade que fica dentro da região metropolitana de Paris. Essa é a segunda vez que vou lá e resolvi experimentar uma maneira diferente de ir dessa vez.

Preparei uns cartazes para prender na minha mochila, como os que eu vi por lá da outra vez. Fiz uns testes em casa para ver qual se lia melhor. Assim poderia evitar ficar preso a uma mesa o dia todo.

Também tentei contornar todo o lance de ficar em hotel. Peguei um vôo no sábado bem cedo do Porto para o aeroporto de Orly. Dali segui de ônibus até a estação de trem e depois de trem até Bievres. Cheguei lá ainda antes de alguns vendedores montarem suas mesas, foi ótimo.

Dei uma primeira volta na feira. Gastei 20 euros nos primeiros 4 itens (5 euros cada) e já quase fiquei sem espaço para mais coisas. Fui almoçar e voltei para feira depois.

Peguei um dos itens que eu queria vender e comecei a andar com ele na mão. Fui oferecendo para visitantes e vendedores até que encontrei um interessado. Assim já abri espaço na mochila e ganhei uns trocados.

Foi então que encontrei algo que há muito tempo me interessa: uma Reflex Korelle. Essa era o terceiro modelo, de 1939.

Esse exemplar estava com o obturador travado meio aberto e tinha um preço que refletia essa situação. Decidi arriscar fazer dela meu projeto de reparo para 2023.

Ainda percorri a feira inúmeras vezes até às 19:30 e achei outras coisinhas interessantes por preços módicos.

Sai com 9 novos itens para aproveitar em meus projetos e muitas ideias novas na cabeça.

Chamuscados

O festival Analógica 2022 ocorreu agora nos dias 23 a 25 Setembro e me juntei ao Diego Veríssimo e ao Hugo Costa para cruzar metade do país e ir lá ter.

Saímos de Braga bem cedinho no sábado e conseguimos chegar à tempo da inauguração da Câmara Obscura que a Câmara Municipal instalou sob o coreto da praça da cidade. Aproveitamos para fazer umas caminhadas ao redor e ir ver o rio Tejo que passa ao largo da cidade.

A residência criativa Celeuma organizada pela Tira-Olhos resultou em uma das exposições dessa edição do Analógica. Na foto abaixo a inauguração que ocorreu no sábado.

A Paula da Tira-Olhos comandou um workshop interessantíssimo sobre luminogramas. O laboratório municipal é muito convidativo. Ver a organização das bandejas no laboratório para a aula da Paula promoveu uma revelação na minha mente. Sai dali cheio de ideias.

E nós nos perdemos pelas ruas de Chamusca mais um pouco, encontramos toiros de oiro pelo caminho e um céu azul seco maravilhoso. Andamos pela margem do Tejo, pela via panorâmica que vai sobre o muro que protege a cidade das cheias do rio. Nos misturamos com os artistas celeumáticos num jantar delicioso.

No domingo eu participei da feira de segunda mão com algumas tranqueiras que eu arrasto comigo para lá e para cá.

Durante o mercado de segunda mão teve uma cena engraçada. O André Nobre veio de Lisboa e nos encontramos lá. Ele estava contando de umas pesquisas que ele anda fazendo para publicar um pequeno livro. A conversa foi ouvida por uma senhora que vasculhava minhas tranqueiras. Ela se revelou uma encadernadora e acabou entrando na conversa. Essas coisas que só acontecem num festival de fotografia. Perfeito.

Feira de Bièvres • Junho de 2022

Desde que ouvi o Wagner Lungov falar dessa feira que fiquei muito curioso. A princípio, a feira acontece todo início de Junho nessa cidade que fica dentro da região metropolitana de Paris. Pela cidade passa a linha C do RER e esse é o jeito mais fácil de chegar lá.

Além de visitar a feira, me interessei também por vender algumas coisinhas. Assim que as inscrições abriram, eu logo reservei o menor espaço disponível.

A feira ocupa o espaço ao redor da prefeitura de Bièvres. É uma área de estacionamento, mas que também pode receber feiras.

Existe opção de reservar um espaço de grama, pura e simplesmente, ou uma mesa com cobertura já montada. Há também espaços para veículos grandes.

Junho costuma ser seco, mas acabou chovendo em ambos os dias. Contei com a ajuda dos meus vizinhos de espaço: Bernard, Jean Paul e Gege. Eles me emprestaram uma mesa e me deram muitos conselhos.

E um pouco de vinho.

O perfil do visitante de sábado é bem comprador, o de domingo é mais turista. Meus itens eram específicos e mais caros, vendi bem no sábado só.

O meu vizinho de fundo tinha lotes e lotes de coisas velhas e de pouco valor, era buffet a quilo de coisas fotográficas. Foi bem nos dois dias. E quando passou a hora do almoço de domingo começou a vender sacos plásticos por 10€ que você podia encher com o que encontrasse. Faltando 30 minutos para encerrar a feira os sacos passaram a ser gratuitos.

Coisas caras são caras em Bièvres, coisas baratas são baratas. Algumas coisas difíceis de encontrar, são fáceis de encontrar em Bièvres. Depois de ter vendido todas minhas câmeras grandes, acabei achando uma Linhof Technika II 13x18cm aqui.

Às margens do Rio São Francisco

Cheguei à Januária de ônibus. A viagem era parte de um projeto mais longo que eu vinha fotografando – uma das vítimas da explosão do Osasco Plaza Shopping havia se mudado para lá e eu achava que umas fotos de como a vida continuava longe de Osasco poderiam valer a pena.

Caminhei da rodoviária para o centrinho da cidade, já perto da margem do rio, achei um hotel bem simples. A diária era R$6 ou R$7 enquanto a coxinha na parada do ônibus era R$3. Tomei um banho, lavei a roupa da viagem, pendurei perto da janela, tirei um cochilo naquela tarde, acordei a roupa estava seca, não era época de chuva.

Sai e tomei uns sorvetes. Fui atrás do José. O Sol queimando. Setembro de 1999.

Descobri uma cidade interessante, conheci umas pessoas inesperadas, ouvi histórias, tomei mais sorvete. Sempre levava duas Nikons. Com uma fotografei a história que eu estava procurando. Com a segunda, fotografei as coisas que eu descobri em filme slide expirado. Anos mais tarde transformei tudo em preto e branco para me ver livre do crossover.

Na ida e na volta fiquei encantado com os buritizais no meio do cerrado.

Maresias, 25 anos atrás

Acho que foi logo depois que meu pai morreu, dois amigos me convidaram para ir acampar, eles eram do Rio e tinham essa fissura com Maresias. Era verão, mas calhou de ser uma semana de chuva e mosquitos.

Resolvi levar uma Pentax Spotmatic com umas lentes diversas e Fomapan F21 vencido para usar em ISO 25. Eu tinha começado a trabalhar no jornal, então pensei em um conjunto de fotos como uma matéria, pensei em entrevistar pessoas, um monte de idéias. No meio desses coisas, fui fotografando algumas anotações sobre esses dias que passei lá e hoje penso que isso fala um tanto do meu estado de espírito.

Lembro de aprender com os amigos a fazer Miojo dentro da sopa Knorr. Lembro que tinha um casalzinho na barraca ao lado que gastava um pote de repelente todo fim de tarde após o banho e o cheiro deles deixava a gente protegido ali ao lado. Lembro de conhecer um figura que fazia pranchas de surf por lá e aprender com ele como era a sequência das camadas e dos polimentos.

A chuva inundou a barraca uma noite, encurtou o acampamento, na manhã seguinte embalei minhas coisas e vim voltando sozinho para casa. Curtindo a viagem.

Pela BR-101 (Piaçaguera) passando por Cubatão vi o céu plúmbeo, nuvens baixas, a vegetação molhada, um pouco de chuva. Que lugar lindo! Não tenho uma foto sequer, nunca consegui passar numa velocidade adequada, uma pena.