Polaroid Palette

E nada. Descolei um Polaroid Digital Palette no centro da cidade. Uma impressora de slides, diriam alguns. Veio de um jeito todo empoeirado, suja que só. Abri a traseira da câmera e (ao lado de um adesivo que diz: CAUTION Do not touch the shutter) jazia um obturador todo amassado. Coloquei as palhetas no lugar. Liguei um computador velho. O tal Digital Palette é um misto de periférico SCSI com monitor, voltagens altas, fiquei com medo dele fritar um computador bom. Conectei o bicho e liguei a força, uma luz verde acendeu e me trouxe esperança. Instalei drivers que achei na internet depois de fuçar horas. Liguei o Photoshop, cliquei em exportar, veio a interface do programa, uma barra de progresso se deslocou de um lado para outro, como se algo estivesse acontecendo no mundo real, mas nem um som, nem um movimento. E nada. Mentira: a luz verde passou a piscar, a esperança se foi.

A Atek tem uma qualidade impressionante. Eles vendem qualquer peça para os flashes e tripés deles. Isso abre um leque de possibilidades. Essa semana eu estava vendo duas panelas para Photofloods que eu tinha aqui guardadas. Os encaixes para tripé de iluminação delas não eram padrão e não serviam direito nos tripés que eu possuo. Eu usava garras para prendem as lâmpadas no tripé enquanto usava, o que não é nada legal.
Na Atek eu adquiri um par de adaptadores com dobradiça, dos que eles instalam nos flashes que eles fazem. Aparafusei os adaptadores direto nas panelas e pronto, as panelas agora ficam seguras no lugar e eu posso direcionar a luz sem me preocupar se vai tudo cair no chão ou não.
Mas o leitor não deve se preocupar, eu não vou gastar fortunas comprando lâmpadas Photoflood. Só ativei essas panelas porque eu ganhei um saco cheio delas (lâmpadas), e sim, testei a maioria, estão novas.

Mudando de assunto: a instalação do Rio Branco na Millan Antonio é interessante. Confesso que fiquei com vontade de desmontar aquela instalação e usar a maioria das coisas que ali estão. Tecnologia é assim, as coisas vão para o lixo não porque não servem mais, mas porque outras servem melhor.

Achei outra imagem que se por um lado não é nada muito importante esteticamente, por outro guarda um momento onde muita coisa mudou de rumo dentro da minha cabeça. Essa caçamba de lixo fica nos fundos de uma lojinha de equipamento fotográfico em Houston. Eu fiz a foto quando visitava a cidade para o Fotofest de 2000. Essa foi a primeira caçamba na qual eu entrei, a primeira de muitas (faltou uma foto de dentro, só lembrei depois que atravessei a rua). A caçamba era bem limpinha, facilitou. E eu sabia mais ou menos o que procurar dentro dela. Enchi um saco com tele-converters velhos, filtros para flashes e outras tranqueiras que o pessoal da loja não conseguia mais vender. Voltei de viagem e distribui presentes para os amigos. Entrar mesmo na caçamba, só no primeiro mundo, lá as caçambas são altas e exigem esse esforço, aqui as caçambas são baixas e você só precisa estender o braço e se espantar com as coisas que as pessoas jogam fora.

Olhando para trás brevemente

olha… eu fico pensando o que essa história de lixo já me fez fazer. às vezes acho engraçado quando repito pela milésima vez que meu cartão de visita é um pedaço reaproveitado de foto em papel fibra com um carimbo no verso. as pessoas olham, e ficam em dúvida. será isso bom?
eu não sei ao certo. às vezes penso que sacrifico minha carreira profissional com essas besteiras. pelo menos não sacrifico o papel, que iria para o lixo.

A procura

noite de insônia. e o vizinho do 303 tem companhia. dai já viu, dormir fica bem difícil. meu! o cara ainda não aprendeu a colocar uma toalha entre a cabeceira da cama e a parede. mas falando de lixo, e do papo com a mocinha de santo andré: lixo, ou o que quer que seja, enfim, comecei a juntar imagens que já existem disso, e acho até que descobri que talvez já haja um trabalho de fotografia de lixo e de lugares onde ele pode ser encontrado. já disse que meu é lixo?
achei um bilhete escrito para a menina do 203 em fevereiro, da onde extraio a seguinte passagem que se refere à uma imagem da série das cadeiras:
“para mim ela é lixo de todas as formas. as cadeiras ficavam ali abandonadas nesse galpão, cobertas de poeira, sem ninguém para sentar nelas. eu até levei umas para casa, e elas me acompanham até hoje. (…) e acho que no fundo fiz isso porque na hora, as cadeiras não eram tão importantes para mim. ingenuidade a minha. e sorte. eu diria.
eu fico maravilhado com esse tipo de possibilidade: reconstituir a vida em um monte de coisas quase mortas.”
coisas quase mortas? será assim que vou chamá-las?