Tenho sempre um caderno que vou usando para tomar notas. Esses dias estava foleando o que estou usando agora e umas das primeiras notas que escrevi nele foi durante uma reunião dos artistas para a organização da Lesma, o Festival de Fotografia Lenta. As libelinhas-chefes da Lesma Paula e Sofia deixaram claro naquele dia que estavam interessadas que o festival promovesse a “natureza subversiva do efêmero”. Anotei isso.
Como o efêmero poderia se manifestar no contexto da Lesma? Estar presente – corpo, mente e alma. Viver o festival, os encontros, os eventos, sujar as mãos um pouquinho, conversar com os colegas, passar o tempo lá, presencialmente, afinal tínhamos sobrevivido ao pior da pandemia.
Então, com essa frase e com essas idéias na cabeça, vou fazer aqui um update sobre o post do início do ano (mais programação e menos redes sociais). Queria falar um pouco dos esforços para apontar a proa numa direção (mas nem sei se consigo). Para onde vamos? A direção da proa não é suficiente para determinar, pelo menos isso eu sei.
O post de uns dias atrás, com o vídeo Impermanência, me fez pensar nisso também. Nossos esforços para fazer as coisas durarem mais, mesmo que bem sucedidos e nem sempre o são, nunca fazem nada durar o suficiente. E quanto seria suficiente? Vale a pena gastar tempo a pensar nisso?
Melhor perceber quais são as coisas que me acompanham por onde quer que eu vá.
Um esforço tem sido esse: avaliar se vale a pena gastar tempo pensando nisso ou naquilo. Enquanto existem, as coisas sempre mudam. O tempo sempre passa. E as coisas podem mudar antes de se chegar a uma conclusão sobre elas.
Heráclito sabia muito disso: um homem nunca atravessa o mesmo rio duas vezes. O rio muda e o homem muda. E pronto fundou o conceito do devir. Eu suponho que o Christian Marclay quando fez The Clock deve ter tido muito tempo para pensar nisso (e o tempo passou bem ali).
Nós aqui frente ao efêmero. Nós aqui diante do tempo. As coisas seguem mudando ou vindo a ser. Nós seguimos mudando ou vindo a ser. Viver certos momentos pode ser mais importante do que tentar os registrar/guardar – talvez uma das edições mais complicadas que o fotógrafo precisa fazer cotidianamente. Outro esforço é esse: acertar nessa decisão de quando tentar registrar/guardar em imagens.

E o grande esforço é encontrar uma maneira de viver intensamente nosso envelhecimento, o envelhecimento dos nossos trabalhos, das nossas ferramentas, dos nossos aparelhos. E se deixar fluir com o rio. E não estou a falar do Rio de Janeiro, esse da foto, que fiz em 1999.


