Frases

“Toda obra de arte é, de alguma maneira, feita duas vezes. Pelo criador e pelo espectador, ou melhor, pela sociedade à qual pertence o espectador.” Pierre Bourdieu

“A arte é uma mentira que nos faz compreender a verdade.” Picasso

“Um sentir é do sentente, mas outro é do sentidor.” Guimarães Rosa

“Para viajar, basta existir.” Fernando Pessoa

“Quando alguém aponta para a Lua, os estupidos olham para o dedo.” Provérbio Tibetano

Isadora

Recentemente fui fazer uma foto para uma revista que ainda não existe. A personagem é Isadora, ela é surda e adora dançar. Isso por si só assunto para uma vida.

isadora

Mas o fato é que uma das imagens resultantes desse ensaio suscitou inúmeras discussões dentro de mim. Cheguei ao local da foto e fiquei de papo com duas pessoas, uma delas a responsável naquele dia pelo espaço onde a foto seria feita (uma escola de dança). O atraso da fotografada foi providencial, o papo foi indo, lá pelas tantas falamos de vizinhos, ela apontou triste o toldo verde todo furado pelos cigarros jogados do prédio acima da escola.

Olhando o toldo comecei a refletir sobre a incompreensão entre as pessoas, o gesto de jogar uma bituca acessa pela janela de um prédio quando se sabe que o vizinho está logo abaixo, a história de busca de compreensão por parte de Isadora, imaginei a dança dos pontinhos brilhantes ao redor dela.

A foto nasceu naturalmente.

Mais tarde pensei que os furos eram pinholes e no momento da foto sobre mim eram projetadas inúmeras imagens das casas dos vizinhos de cima da escola de dança. Não parei para contar quantos pontos são. Talvez seja legal voltar lá num dia de eclipse do Sol e fotografar o chão de pedras onde deitei para fazer essa foto!

W. H. Auden fala sobre fotografia

Tudo começou porque eu estava ouvindo o CD do Renato Russo chamado: The Stonewall Celebration Concert. No próprio disco há, impressa, uma citação a um poema de W.H. Auden. Quem é esse cara? Que duas linhas mais maravilhosas, por sinal.

Digitada a primeira linha no Google apareceram inúmeros lugares para ler o resto do poema, entre eles esse. Acessei também o Wikiquotes e descobri que é dele o poema da cena do funeral no filme Quatro Casamentos e um Funeral. Coincidência, mas até ai, nada de mais. Fuçando um pouco mais na Wikiquotes encontrei um pequeno achado, uma citação de W.H. Auden falando de fotografia, segue o link e uma transcrição:

“Normally, when one passes someone on the street who is in pain, one either tries to help him, or one simply looks the other way. With a photo there’s no human decision; you’re not there; you can’t turn away; you simply gape. It’s a form of voyeurism.” In Paris Review “Writers at Work” interviews, 4th series (p.247) [entrevista concedida em 1972]

ISPR

O décimo primeiro post desse blog era sobre um pequeno livro. Um livro inspirado em alguns relatórios chamados de Improper Shipment Procedure Records.

Naquela época eu procurava uma impressora laser meio baleada para voltar a fazer esses trabalhos. Fiz esses livros enquanto fotografava peças metálicas que chegavam enferrujadas em uma fábrica. Cada foto mostra um defeito. O livro virou ISPR.

Química e oficinas de fotografia

Pensando sobre a oficina lá no SESC e em tantas outras. Às vezes fica a impressão de que os participantes estão à espera de uma apostila, contendo todos os segredos e fórmulas para revelar e modificar o papel fotográfico.
Dai eu invento ali uma fórmula mirabolante de rebaixador, meia colher de chá de ferricianeto, meia colher de sopa de tiossulfato. Não tenho bacharel em química, não! Tanto é que esqueci o brometo, mas tenho a certeza de que ferricianeto e tissulfato juntos vão rebaixar a cópia, de um jeito ou de outro.
O rebaixador funciona. Também funcionaria caso eu colocasse uma colher de sopa de ferricianeto e uma de chá de tiossulfato, faz diferença, mas não deixa de cumprir o propósito.
Antes eu ficasse apenas com a fotografia, mas quero transmitir fotografia, química e uma atitude experimentalista para os participantes, dai não dá, sem apostila não dá!!!