Crise de meia-idade

Desejei esse pequeno grupo de tatuagens durante muito tempo. São três desenhos e cada um representa uma pessoa. Meus dois filhos e eu. Essas coisas vão ficando para depois e depois. Semana passada imprimi uma folha com a minha idéia e fui a uma loja que tinham me indicado logo depois da pandemia.

A loja estava fechada, foi decepcionante. “Que vacilo, Guilherme!”

Uns dias depois estava reunido com um grupo de artistas aqui da cidade, no jardim de esculturas de um museu. No meio da conversa, uma artista menciona que estava aprendendo a tatuar e que buscava pessoas interessadas em serem seus primeiros objetos, vítimas, cobaias, telas.

Saquei o papel impresso da mochila e o resto é história.

A Juliana Boo aceitou que eu fosse a sua primeira tatuagem e eu dei a sorte que ela fosse a minha primeira tatuadora.


Quando escrevo que essas coisas vão ficando para depois e depois, era sobre isso que queria falar.

Há um tanto de tarefas que aparecem e vão passando à frente, seja porque o mundo demanda, ou porque elas têm seus prazos. Acho que a crise da meia-idade para mim tem sido o momento de rever tudo que foi ficando para trás, as coisas que eu não tive tempo de estudar antes (como a programação, a eletrônica, enfim, o digital mesmo), as coisas que eu não tive organização para fazer (como essas tatuagens, um mestrado).

Tem um artigo interessante no DailyOm sobre isso, lá eles listam 4 maneiras de usar a meia-idade de maneira mais afirmativa e estratégica. Destaco duas que eu considero as mais importantes: repensar como se usa o tempo (coisa que eu já tenho feito bastante desde a construção da ULF, escrevi bastante sobre isso, talvez até demais) e usar sua própria sabedoria já construída ao longo dos anos (perceber seu próprio fluxo de trabalho, repensar suas próprias reações em situações já vividas). Esse tipo de reforço ajuda a mudar o mindset daqui para frente.


Essa semana eu achei um monitor no lixo, um HP de 19 polegadas, nada muito maravilhoso, mas um monitor pequeno e leve. Ao ligar, ele dava apenas uma tela branca, sem nenhuma imagem. Ao longo desses aprendizados eu já sabia que os monitores tem 3 placas: fonte de energia, placa de vídeo e a placa t-con que fica presa ao painel. E já sabia que tela branca em geral é um problema na t-con. Fui lá com meu multímetro e achei um fusível queimado. Um fusível, que simples! Fiz uma ponte ao redor do fúsivel (não é o reparo ideal nem o mais seguro, mas…) e pronto!

Assim já tinha um novo monitor para um dos meus laptops nus. Acho que ainda não falei deles aqui. São vários e fazem parte das coisas que tenho feito no TiroLiroLab. Hummm, essa história vai longe, depois eu conto mais. Por enquanto vou só deixar uma foto aqui:

Quando escrevo “que simples!”, esse é meu novo eu, todo envolto em novos aprendizados e tatuado. E aos 49 anos fui aceito no Mestrado em Media Arts. Mais e mais tenho lido e me interessado pelas artes digitais. Bom, esse assunto ainda é mais longo que o TiroLiroLab, e vou deixar ambos para mais adiante.

Tentando entender o papel da fotografia analógica nos dias de hoje

Essa semana eu consegui ir ver algumas das exposições dos Encontros da Imagem de Braga. Muita coisa interessante de ver, mas poucas que realmente tocam meu coração.

Uma exposição em especial me atraiu pela imagem nos banners pela cidade e me chamou atenção com sua delicadeza e simplicidade.

Essa exposição de Carlos James Reeder tem apenas 14 imagens em tamanho A3+ (talvez). A montagem em si é simples, as molduras metálicas contem as fotos sem passe-partout. Finos cabos de aço prendem as molduras a barras no topo de divisórias já cheias de história e marcas de diversas exposições anteriores. O texto é um pouco pequeno, ou meus olhos estão um pouco velhos.

As molduras tem marcas também, isso incomoda um pouco a fruição do trabalho. O trabalho de impressão é preciso e o mesmo tom do fundo ligeiramente off-white está em todas as imagens, isso colabora muito para a sensação de união entre as imagens e fala imenso do trabalho envolvido na produção dessas 14 imagens.

As imagens mostram uma série de objetos em diversas camadas. As camadas por sua vez são criadas tantos pela disposição dos objetos no espaço do estúdio como pelo desfoque da objetiva da câmera. No plano de foto é possível até ver os detalhes da trama offset dos objetos impressos. Essa trama se confunde com o grão das imagens em alguns momentos. O assunto das imagens escolhidas para compor os objetos dentro das imagens contém ciência, tecnologia, trabalhos manuais. As composições são variadas e mantém um ritmo agradável na exposição. Não há um ponto de início e um ponto final, não falta intencionalidade ao trabalho também.

Peço licença para questionar duas frase desse texto. Não acho que as imagens sejam descontextualizadas aqui, mas sim recontextualizadas. Será que os adjetivos “disjointed and disorienting” não são um tanto pejorativos aqui? Será que subestimam a capacidade do observador de perceber o trabalho à sua maneira. Me parece que o artista já coloca suas intenções no texto até aquele ponto, ao chegar a essas duas frase, há um movimento de retração, um questionar o que foi dito.

Esses pequenos detalhes no texto me deixaram bem irritado naquele momento. Senti que aquilo queria estragar a fruição do trabalho, uma força que queria negar que eu tinha percebido do trabalho, começando por negar a intenção do trabalho. Talvez eu esteja pegando pesado demais…