Carl Zeiss Jena Tessar 2,8/50 T

Há muitos anos que eu fiz uma troca por correio com um outro fotógrafo de um fórum, não lembro bem o que eu enviei, mas recebi essa Tessar 50mm produzida pela CZJ. Depois descobri que esse foi o primeiro modelo da 50mm Tessar produzido após a Segunda Guerra Mundial. Foi produzida entre 1950 e 1954.

O encaixe dessa objetiva que eu tenho é M42, mas não serve numa câmara Pentax M42, por exemplo. A objetiva tem uma protuberância na parte traseira e nem cabe na maioria dos adaptadores de M42 para outras baionetas. A objetiva foi produzida para a câmara Contax D e tem um sistema preset para aberturas.

Quando eu recebi essa objetiva estava contruindo as primeiras câmaras-scanner e ela acabou sendo usada para a maioria das imagens da série Pluracidades nessa câmara aqui:

Recentemente eu comprei alguns adaptadores novos no AliExpress para usar nas câmaras Sony. Quando chegou um de M42 para Sony E eu percebi que ele era diferente dos adaptadores anteriores que eu já tive. A rosca M42 não tinha uma beirada no fim. Vi que a protuberância da Tessar não seria problema. E a objetiva é bem leve, seria uma ótima companhia, então levei ela para um passeio pelo bairro.

A lente é pequena, não ocupa muito espaço. O primeiro elemento é bem recuado e bem protegido, nem precisa de parassol. Aberta em f/2.8 ela é suave demais, mas em f/3.5 já começa a ficar bem agradável o visual clássico dela.

Visual clássico é um eufemismo para ausência de foco/recorte/etc, as coisas que sobram nas objetivas modernas. Para uma objetiva com pelo menos 70 anos de idade, usada num sensor de 42MP, os resultados foram excelentes! Tem muita gente online reclamando do bokeh dela, não é o ponto forte mesmo. O ponto forte é o conjunto.

Mas depois de olhar essas fotos do encontro do Art Group em Braga, acho mesmo que o bokeh é bem divertido e aceitável (mas não me coloco como especialista em bokeh).

Uma 10D que vai fazer timelapses até morrer

Depois da minha aventura com a Nikon D100, apareceu aqui uma Canon 10D ainda com aparência de nova. Também em 6MP e até seria possível tirar o filtro infravermelho, como na D100, mas não me apetecia fazer a mesma coisa nessa. E ela tinha um problema, talvez até pelo pouco uso: o espelho levava uns milissegundos a mais para subir. Então às vezes ela dava erro ao fotografar normalmente. Mas em mirror lockup não dava erro nunca.

Resolvi explorar algum outro aspecto dessa câmara e pensei na conexão com o disparador a cabo. Assim eu faria algo com a câmara estacionária e poderia usar o mirror lockup.

Juntei uns fios aos pinos e com cola epóxi deixei aquilo bem firme.

Fui ao AliExpress e encontrei uns boards Wemos D1 mini (esp8266) bem em conta. Já tinha resistores, encomendei também os optocouplers para nenhum circuito queimar o outro.

Cola quente, muita cola quente, sempre. E estava pronto. Num tripé na varanda, tanto a câmara como o Wemos ligados à eletricidade, resolvi deixar um dia fotografando para ver se corria bem.

Escolhi a resolucão M (que é ligeiramente maior que 1080p) para o cartão de 4Gb ser mais que suficiente. Coloquei um delay para fazer uma imagem a cada 30 segundos. Assim, com 60 fps, consigo uma hora em 2 segundos de vídeo, das 10h às 20h em 20 segundos, para começar. Coloquei em prioridade abertura (f/8), ISO 100.

Li no manual que na 10D ao habilitar o mirror lockup são necessários dois contatos no disparador (um sobe o espelho e o outro faz a foto). Se o self-timer em for habilitado em conjunto, toda vez que o disparador é acionado o espelho sobe, a câmara espera dois segundos e dispara automaticamente. Isso é bom para evitar uma série de problemas e tem a vantagem de introduzir o som do self-timer durante esses dois segundos. Bastava chegar à varanda e esperar um bocadinho até ouvir esse som e saber que tudo ainda funcionava.

Deu tudo certo e consegui mais de 1200 arquivos nesse dia. Usei o Time Lapse Assembler em OS X Snow Leopard para montar tudo rapidinho em 30 fps, com o FFMPEG aumentei a velocidade para chegar ao equivalente aos 60 fps e cá está. Depois fui descobrir que dá para fazer tudo com o FFMPEG, num sistema mais moderno e num computador mais novo. o FFMPEG é gratuito e instala em quase qualquer OS. Refiz o vídeo inteiro usando apenas o FFMPEG e vou deixar aqui como referência os comandos que eu usei. Esse primeiro serve para varrer a pasta com os Jpegs e montar o vídeo no tamanho original das images:

ffmpeg -framerate 30 -pattern_type glob -i "Capturas 01/*.JPG" -s:v 2048x1360 -c:v libx264 -crf 17 -pix_fmt yuv420p saida.mp4

Depois usei esse comando para dobrar a velocidade:

ffmpeg -i saida.mp4 -r 30 -vf "setpts=(PTS-STARTPTS)/2" -crf 17 saida_FF.mp4

Então diminui o tamanho geral do vídeo:

ffmpeg -i saida_FF.mp4 -filter:v "scale=w=1280:h=850" saida_FF_scale.mp4

E por fim, dei um crop para deixar na proporção 16:9

ffmpeg -i saida_FF_scale.mp4 -filter:v "crop=1280:720:0:110" saida_FF_crop.mp4

E pronto!

Mais tarde resolvi fazer um segundo timelapse. Calculei que com um cartão de 8Gb poderia deixar a 10D fotografar por 72 horas. Então fiz um pequeno “guarda-sol” para controlar a temperatura durante as manhãs.

Depois de aproximadamente 4450 fotos (umas 60 horas), a câmara desligou sozinha e acusava bateria fraca. Foi bem estranho. Não foi no horário de Sol mais forte, nem nada do gênero. Desliguei tudo, com um multímetro medi a fonte e estava tudo normal. Voltei a ligar tudo e ela continuou como se nada tivesse acontecido. A sorte foi descobrir uma sujeira enorme sobre o sensor e encaixar uma limpeza nesses 15 minutos que ela ficou desligada. Também pude bisbilhotar as fotos do meio da madrugada para avaliar os resultados.

Aqui uma imagem do início do amanhecer. Coloquei umas setinhas para mostrar a sujeira enorme no céu e diversos pixels mortos pela imagem toda. Ainda não tinha visto as imagens da madrugada e da noite. Elas acabam ficando ligeiramente subexpostas, já que o automático só vai até 30 segundos. Tenho usado ISO 100 e f/8 com velocidade automática, que acaba variando entre 1/500 e 30 segundos ao longo das 24 horas. Os dias seguintes correram assim:

Bom, nesses testes iniciais a câmara fez aproximadamente umas 11.000 fotos. O beep da confirmação do autofocus e do selftimer já parou de funcionar. Noites inteiras fotografando em 30 segundos de exposição atraem muita sujeira para o sensor. Situações limite! Hahahahhahahahahhahahaha

A conversa com o artista

O ano era 2015, a exposição Travessia estava aberta na Casa da Imagem e dentro da programação, que fazia parte do projeto apresentado ao Prêmio Marc Ferrez, havia uma conversa com o artista (eu).

Eu cheguei carregando uma caixa pesada, cheia de livros que eu pretendia distribuir. Coloquei a caixa no chão, perto da janela e da porta para a varanda. Fiquei ali conversando com umas pessoas e quando deu a hora acertada convidei todo mundo para sentar no chão. Acho que isso ajudou bastante a manter a coisa bem simples e quebrar o gelo suavemente.

Eu pretendia fazer um pequeno histórico do projeto, talvez fosse interessante para as pessoas saberem todas as etapas que levam até uma exposição como aquela. Comecei do início, da simplicidade de como começaram as fotos, e fui falando sobre tudo que eu lembrava. Me emocionei algumas vezes, lembrando de quando parecia que ia dar tudo errado. Ainda lembro do aperto ao redor na boca para falar de certos momentos. E também falei de como a Ana Silvia Forgiarini da Frida Cultural me ajudou, desde de antes daquilo ser um projeto até a entrega dos últimos relatórios – é provável que tudo ter acontecido e ter dado certo seja mais responsabilidade dela, do que minha.

Foi um dos melhores momentos desde sempre, tinha motivos de sobra para estar orgulhoso , desde as imagens até os detalhes mais minuciosos do projeto. Estava tudo entregue como tinha sido proposto e ainda tinha o livro para todos os presentes.

O jeito como o edital do Marc Ferrez era pensado era muito interessante para poder gerar esses momentos dentro da programação. E acho que momentos desses junto a uma exposição faz a coisa se tornar muito mais interessante para expectadores que não conhecem tão bem o trabalho do artista. E para os artistas, que mergulham nesse modo de se apresentar para o mundo, uau, foi lindo!

Achei essas duas fotos num backup e elas fizeram brotar essas palavras.

Acho que olhar o arquivo tem esses dois disparadores de emoções em paralelo. Um dispara a ter idéias a partir das coisas boas que a gente vai achando no arquivo, das lembranças bacanas e etc – emoções pungentes, uma delícia. O outro fica ligado nas coisas que a gente perdeu, nas pessoas que se afastaram, alguns arrependimentos e coisas que podiam ter continuado ou sido mais bem aproveitadas, mas não foram ou não vingaram – esse é um disparador chato. Enfim, faz parte das crises de meia idade, desse momento da vida – vejo os posts dos últimos anos nesse blog e tem uma tendência óbvia de fazer um balanço do que rolou até aqui. É um momento para se aproveitar, para se viver, para pensar nos passos daqui para a frente.

Lembranças emuladas

Estive quase 6 anos distante de algumas caixas de coisas que estavam no ateliê da Rua Tabapuã. Tinha um pouco de tudo ali dentro: negativos, imagens, o que havia escapado da água que os bombeiros usaram para apagar o incêndio no GuardeAqui da Lapa, essas coisas. Aproveitei uma carona e recentemente me reencontrei com essas caixas. Espalhados pelas caixas estavam HDs de diversos computadores que eu recuperei do lixo e/ou tive ao longo do tempo. Muitas pequenas histórias de descobrimentos e algumas arqueologias da era da informação.

Organizei como pude os cabos e conexões e comecei a remendar essas histórias. Fui organizando os arquivos por assunto e comparando com meus backups que estavam já aqui comigo. Num HD, por exemplo, juntei 235Gb de softwares, na sua maioria para Mac. Tem coisa dos anos 1990 para OS 8 e OS 9, depois coisas dos anos 2000 para OS X e por fim coisas para Mac OS.

Nos últimos anos, eu já tinha passado os olhos em fóruns sobre emulação de sistema operacionais e sabia mais ou menos o que estava acontecendo nesse meio. Quando vi esse monte de software guardado, me deu um estalo, fui investigar mais a fundo. Acabei seguindo um guia simples do fórum E-maculation para instalar o QEMU no Windows 10. Levou apenas alguns minutos para instalar o básico e iniciar a máquina virtual com o Mac OS 9, foi impressionante.

Instalei o OS 9.2, porque era o CD que eu já tinha aqui. Juntei as coisas que eu queria instalar e passei para dentro da máquina virtual. Uns minutos depois já estava com meu programinha favorito daquela época tão distante: Pict2Ascii. Ah! Que saudades!

Depois instalei minha cópia do Photoshop 5.0. O mesmo que eu já usava em 1993 para tratar as fotos que escaneei para meu primeiro site. É impressionante como o Qemu é uma experiência confortável – os processadores de hoje tem velocidade de sobra para emular a velocidade com que as coisas funcionavam naquela época. E o monitor tem resolução de sobra para deixar a janela do “Mac” bem confortável também. Parece que foi bom deixar passar tanto tempo assim, para essas coisas evoluirem até aqui.

Fui fuçar nos plugins e ver as coisas bizarras que eu ainda tinha guardadas. Achei um que eu nunca tinha usado: Infrared Camera! Que na verdade é mais uma thermal camera. Hoje em dia isso é um preset de Lightroom, mas naquela época, para poder obter resultados consistentes e reproduzir uma mesma visualidade em várias imagens, só criando um plugin, que trabalheira!

E para terminar a sessão, achei a primeira versão do filtro Flood do Flaming Pear! Uau! Esse plugin permite criar um espelho d’água em primeiro plano que reflete o que sobra da imagem. Esse já era compatível com Photoshop 3.0… Que viagem no tempo e que filtro mais perfeito para falar de questões recentes do nosso mundo!

Para quem quiser entrar na mesma viagem, vale a pena ler o tal fórum Emaculation, depois passear pelo Macintosh Garden e de quebra, para pensar no hardware que está sendo imaginado pelo emulador, assistir uns vídeos do Action Retro ou do This Does Not Compute – ambos canais interessantes do Youtube sobre hardware clássico.

ULF do Sr. Arlindo

Em 2020 estive em Coimbra para conhecer as histórias e a loja do Sr. Arlindo. A Fátima Roque me falava muito dele desde 2012, tanto que escrevi esse post aqui em homenagem a essa história com as fotos que a Fátima me mandou e com a entrevista que gravei com ele em 2020.

Agora na segunda quinzena de Abril de 2024 estive por lá novamente e foi muito bom saber como andam as coisas na Diorama. Adorei ver que o Sr. Arlindo continua cheio de idéias e novas construções! Cheio de energia!

Logo depois que passei por lá chegou a pandemia. Sr. Arlindo me conta que ficou trabalhando sozinho ali na sala dos fundos da Diorama, recombinando as coisas que ele já tinha para criar essa câmara de ultra grande formato (28x35cm e 30x40cm).

A câmara tem diversos movimentos, anda sobre 4 rodas, tem foco motorizado e um obturador elétrico com controle de tempo digital. Brutal!

Uma pequena placa na frente contém uma dedicatória, um poema, sua assinatura.

Uma bela construção, cheia de ideias interessantes. Fiquei vidrado com os grampos de marcenaria sendo usados como os standards da frente e da traseira, uma ótima solução!

A Diorama ou o Sr. Arlindo não estão nas redes sociais, é uma ótima desculpa para ir conhecer Coimbra e ele.