Quimigramas no Campo das Carvalheiras sob a chuva bracarense

Ah! Nada mais bracarense que uma chuva fraca e persistente!

Assim foi a oficina de quimiogramas que fez parte do núcleo de artes visuais do Nébula, sob uma garoazinha bracarense.

Usamos uma das mesas de merenda do Campo das Carvalheiras no centro histórico de Braga, num dia nada especial para isso…

Reaproveitamos uma caixa de papéis fotográficos bem pequeninos da Gevaert, um Ridax tamanho 8x8cm, fibra, peso simples, brilhante. Usei Rodinal bem diluído para dar uma revelação bem lenta, perfeita para iniciantes em quimiogramas.

Conseguimos muitos meios-tons, ficou muito bacana!

Faltou mesmo foi uma bebida quente para manter o corpo mais quentinho!

O descampado no fim da minha rua

Agora que já faz mais de um ano que adotamos a Polenta, uma cadela sem ração definida que tem muitas características de uma raça conhecida como podengo português, comecei a olhar para as fotos que fiz ao longo de incontáveis passeios com ela pelo bairro.

No fim da minha rua há um terreno vazio, um grande descampado com uma vista incrível para o vale do Rio Cávado. No outro lado do vale estão Vila Verde e o Prado, que são menores que Braga. Ao longe uns montes mais altos com turbinas eólicas e se pudéssemos ver além, veríamos a Espanha.

Polenta adora farejar, mas gosta também de sentar e ficar sentindo os diferentes cheiros que vêm no vento. E eu entro na onda e fico observando o tempo passar, os detalhes de cada estação, a forma das nuvens, como a vegetação da época balança ao sabor do vento.

Às vezes as nuvens filtram a luz do Sol, tem vezes que é a fumaça dos incêndios. Tem dias quentes com um vento gelado. E agora nesse início de Outono teve uns dias perfeitos, nem quentes, nem frios, com um vento constante.

Depois de um tempo, vendo sempre a mesma paisagem, várias vezes ao dia, algumas coisas que pareciam tão relevantes e dignas de uma imagem, começam a se tornar corriqueiras. Me pego esperando um dia ainda mais incrível, nuvens com um desenho ainda mais complexo ou intrigante, coisas desse gênero.

Já sei mais ou menos a que horas os postes de iluminação urbana vão acender ou apagar, fico esperando aquele momento em que tudo vai se alinhar para que a exposição automática do smartphone seja capaz de lidar com essa riqueza de tons.

Mas tem vezes que a situação exige abandonar qualquer plano previamente estabelecido e arriscar tudo num frame impensável com o Sol quase ao centro da imagem. A natureza é que manda, boa parte das vezes.

Um dia a Polenta me acordou mais cedo, chegamos no descampado ali pelas 6 das manhã, o Sol ainda não tinha nascido pelas nossas costas, mas uma luz matinal já iluminava essas nuvens sobre o vale do Cávado. A Lua, que ainda não tinha ido dormir, se escondia por trás de umas nuvens fininhas, quase na linha do horizonte. Agradeci a Polenta, pensei em William Turner, fiz uma foto tremida e cheia de ruído.

Novas redes

Participei de um concurso de fotografia interessante essa semana passada. A Câmara Municipal disponibilizou rolos de filme e câmaras descartáveis para os participantes fotografarem nos locais dos vários imóveis que são patrimônio histórico da cidade. A lista completa dos imóveis foi oferecida aos participantes, tinha lugares de simples acesso, no centro da cidade e lugares distante do centro. Era ao gosto do freguês. Fiquei sabendo que uma participante comprou uma frigideira (um salgado tradicional de Braga) e a levou para fotografar junto às rosas do jardim de Santa Bárbara. E com a frigideira e as rosas usou todas suas 24 fotos. A criatividade do ser humano é algo maravilhoso e estou curiosíssimo para ver essas fotos! Foi uma iniciativa interessante para fazer as pessoas olharem para certos prédios e casas da cidade nesse início de Outono. E é sempre bom reencontrar os colegas e ficar sabendo dessas histórias.

Depois, no mesmo dia, foi o Open Day do Nébula, já falei dele aqui e já até atualizei o post sobre ele com imagens que fizemos naquele dia. O oficina de Construção de Câmara Digital Artesanal é algo que eu já faço a tanto tempo, mas a experiência de transformar ela num evento curto foi interessante. Abri a pocket oficina com algumas poucas palavras para explicar o que tínhamos ali diante de nós. Mostrei o CCD de uma câmara digital normal, mostrei o CCD linear de um scanner comum. Expliquei as diferenças, falei de possibilidades. A câmara já estava montada ao laptop, não foi sendo construída ao longo de horas de oficina. Fiz um auto-retrato e convidei os alunos a fazerem o mesmo, cinco minutos depois estava montado um circo ali, uma algazarra maravilhosa.

O divertimento das pessoas ao ver seus corpos e rostos deformados pela varredura incessante do CCD linear é um deleite. A caixa preta tem seu apelo, desconhecer o output, vê-lo magicamente aparecer na tela com formas e cores surpreendentes é um evento fora da rotina – pitoresco e interessante. Ainda bem que o Vuescan permite salvar as imagens automaticamente, assim nenhuma delas se perde na pressa de fazer a próxima!

São dois exemplos da fotografia criando redes ao longo de um final de semana, gostoso isso.

Réveillons

Tem um projeto nasceu praticamente ao mesmo tempo em que comecei a praticar à fotografia. Isso foi lá no início dos anos 1990, mais precisamente no dia 1 de Janeiro de 1993. E fiz fotos para esse mesmo projeto até os primeiros dias de 2018.

Esse grupo de imagens reflete diversos detalhes do meu processo criativo: a ausência, o silêncio, os recipientes (que guardam materiais como fronteiras entre o seco e o molhado) e os lampejos (que simbolizam eventos irreprodutíveis). Acredito que o foco central é a ideia de ciclos que se encadeiam, já que retrato a fronteira entre eles: o réveillon.

1994

Meus réveillons sempre foram momentos de vazio. Faltava alguma coisa. Meu estado de espírito não acompanhava a alegria ao redor. Assim, essas ocasiões tornaram-se momentos de reflexão e introspecção, em vez de festa e celebração. Desde a adolescência, minhas caminhadas tornaram-se minha atividade preferida durante a semana do evento, afastando-me da festa que se fazia onipresente.

2016

No Natal de 1992, ganhei uma câmera. Trouxe-a para dentro desse ritual. Ao longo dos 25 réveillons seguintes àquele Natal. Fotografei, pensei sobre tudo que vivi e ainda desejava viver. Com a câmera, encontrei nuances diferentes nestes dias do ano: um compasso de espera, quase uma angústia, um sofrimento, um toque de ironia e um rompimento com o que passou. Esses detalhes estavam presentes nas celebrações de alguma forma; faltava apenas reconhecê-los.


Já faz uns anos que eu penso nesse projeto, escrevo e reescrevo sobre ele. Já fiz algumas candidaturas para prêmios, na tentativa de organizar uma exposição ou um pequeno livro com ele. Nada vingou ainda, mas eu não esqueço dele e continuo tentando. Esse post inclusive nasceu porque fiz uma candidatura recentemente e fiquei pensando nessas imagens mais uma vez. Provisoriamente esse trabalho ou que quer que nasça dele se chamará Réquiem. Junto a Travessia e a Lampejos, outros dois grupos de imagens, esses trabalhos são os mais representativos da categoria Fotografia no que eu fiz até hoje.

O próximo post nesse blog me obrigou a criar uma nova categoria aqui. Que serve também para organizar algumas coisas que eu já fiz, mas que andavam por ai descategorizadas. A nova categoria ganha dois posts de 2008 e um de 2010. Ah! Os projetos que levam anos para encontrar uma saída, é bom finalmente ver certas coisas acontecerem.

Ignorar uma placa gráfica

Recentemente cruzou meu caminho um MacBook Pro Early 2011 com processador i7, uma tela de 15 polegadas e o problema comum da placa de vídeo AMD Radeon HD 6490M que impede que ele ligue. Um sonho antigo, tirando a parte do problema da placa gráfica.

Lá pelos idos de 2015 a Apple até trocava as placas-mães gratuitamente desse modelo, mas o problema voltava com o tempo. Se supõe que a placa gráfica roda tão quente que aos poucos alguns dos pontos de solda entre ela e a placa-mãe perdem o contato, ou seja, se supõe que fosse um problema de design irremediável.

Durante um bom tempo uma solução que havia era usar uma estação de solda para tentar refluir a solda da placa e reestabelecer os contatos. Alguns técnicos ficaram muito experientes em aplicar essa técnica, mas para pessoas com menos experiência nisso, como eu, podia ser arriscado demais.

A questão do calor gerado pela gráfica incomodava muita gente também. E como essa placa não era algo espetacular de usar, alguns usuários foram atrás de criar uma maneira de desabilitá-la. É importante lembrar que esses laptops possuiam duas placas de vídeo. Além da AMD, tinham também uma mais simples incorporada ao i7, a Intel HD Graphics 3000. E tinham um sistema que trocava automaticamente de placa gráfica dependendo da tarefa a ser executada e da quantidade de energia disponível na bateria.

Alguns nerds mais experientes ligaram os pontos e começou a circular por ai um pouco de código que desabilitava a placa gráfica Radeon. Bastava ligar o Mac em Single User Mode e digitar:

sudo nvram fa4ce28d-b62f-4c99-9cc3-6815686e30f9:gpu-power-prefs=%01%00%00%00

E depois reiniciar o Mac. Assim, esse comando estabelecia que apenas a primeira placa gráfica do sistema deve receber energia (a que está incorporada ao processador). No entanto, bastava um reset de NVRAM ou mesmo um update, para o comando perder o efeito.

Usei esse comando com o MBP para saber se o problema dele era mesmo com a placa gráfica Radeon. E assim consegui confirmar o problema, já que após usar esse comando ele funcionou perfeitamente.

Fui pesquisar como fazer a mesma coisa com alguma distro Linux nesse MBP. Acabei encontrando um blog com várias respostas às minhas questões, do programador Sarang Baheti. Bastava customizar o Grub tanto para a instalação do Linux, como para o sistema definitivo. Eu optei por continuar usando o MX Linux, que é uma distro baseada em Debian e que tem me deixado satisfeito. Bastava adicionar essas quatro linhas às configurações do Grub:

echo "          outb 0x728 1" | sed "s/^/$submenu_indentation/"
echo "          outb 0x710 2" | sed "s/^/$submenu_indentation/"
echo "          outb 0x740 2" | sed "s/^/$submenu_indentation/"
echo "          outb 0x750 0" | sed "s/^/$submenu_indentation/"

Essas linhas no Grub tinham o efeito semelhante ao comando anterior usado em single user mode, cortavam o suprimento de energia da placa gráfica Radeon. E como há um arquivo nas distros linux que confirma o conteúdo do Grub, era fácil mantê-lo sempre atualizado com essas quatro linhas, tornando a solução mais permanente e protegida.

E assim cheguei até aqui. Chamando de placa gráfica e placa de vídeo para agradar os dois lados do Atlântico. Depois foi só instalar uns apps e estava tudo pronto!

sudo apt-get install gimp kdenlive pycharm-community git ffmpeg chrome darktable curl default-jre qttools-dev-tools python3-tk

Cinco anos de gaveta

Comprei essa Olympus XA em 2019, ela tinha um defeito que era irreparável na época. Ela armava e disparava, mas sempre na velocidade máxima, ignorando o fotômetro e a abertura. Cheguei a desmontar ela e olhar o circuito, havia um pouco de corrosão, provavelmente algo impedia um eletroimã de segurar o obturador aberto.

Uns dois anos depois achei um figura vendendo pedaços de Olympus XA num fórum e resolvi arriscar investir numa objetiva e circuitos para trocar. Fiz a compra e uns dias depois chegou em casa a caixinha. Eu abri aquilo e encontrei exatamente o que eu tinha pedido. Mas comecei a pensar no trabalho que ia dar, dessoldar tantos fios, sem um espaço apropriado para fazer o reparo. Enfim, bateu uma preguiça enorme.

O tempo passou e acabei esquecendo da XA por um ano e pouco. Dai lembrei e resolvi começar, na época desmontei a câmara e num dado momento não sabia o que fazer para tirar a lente original. Desisti e guardei tudo de novo e esqueci novamente.

Semana passada estava procurando uma ferramenta e acabei encontrando a XA novamente. Resolvi acabar com esse sofrimento e fiz um anúncio num fórum para vender no estado. Dois dias depois nem uma mensagem. Tomei vergonha na cara e decidi encarar a XA mais uma vez.

Bom, segui a risca a maneira correta de desmontar a câmara e tenho ainda frescas na memória as piores partes:

  • a lente que eu comprei é da mesma câmara, mas não da mesma versão (provavelmente a minha câmara é dos primeiros anos de fabricação, a lente que eu comprei é bem mais recente);
  • a lente que eu comprei veio faltando algumas peças da periferia que interagem com o resto do sistema (consegui aproveitar tudo da lente velha, mas não posso te certeza se isso é aceitável para um bom funcionamento);
  • a lente que eu comprei veio com os fios cortados ao invés de dessoldados, logo tive que fazer extensões para todos eles, demorado, tedioso e possivelmente introduz mais pontos problemáticos;
  • por comparação, percebi que o circuito da câmara estava mesmo bem degradado, oxidado, etc.

Decidi eliminar a parte do circuito relacionada ao sincronismo de flash. Eram quatro soldas a menos para fazer e menos alguns pontos problemáticos nas minhas contas.

Posto isso tudo, montei a câmara o suficiente para realizar alguns testes. Conferi as baterias com o multímetro antes disso. O check de baterias da câmara também acusou ok. De cara, alguma dificuldade de disparar, disparador intermitente. Depois alguns clicks perfeitos (com tempos longos de acordo com a iluminação). Voltei a desconectar o beeper (que tinha vindo desconectado originalmente). Ainda o problema intermitente, era só preguiça do técnico anterior, faz sentido.

Percebi que quando a câmara falhava em disparar, a agulha do fotômetro do visor dava um pequeno pulo. Ou seja, o circuito do disparador fechava, mas a corrente escapava em outra direção ao invés de atuar no eletroimã responsável pelo disparo. Deixei tudo de lado enquanto a cabeça volta e meia matutava numa maneira de testar esse problema intermitente.

Pensei em usar esse tempo para modificar a outra lente e usar nas câmaras Sony, mas depois de ver esse site aqui, desisti disso também…

Talvez o melhor seja deixar passar mais uns anos, enquanto as idéias voltam a se alinhar.