Químicos domésticos

Há umas semanas atrás um comentário da Michelle me apresentou um figura muito interessante, o Roger Bunting, o artigo dele na Revista Shutterbug é muito bacana.

Ele fala de usar materiais caseiros para revelar filmes. A informação que mais me chamou a atenção foi poder usar água salgada para fixar filmes fotográficos. Genial!

Estou tendo uma dificuldade enorme para encontrar Tiossulfato de Amônia para vender e agora fiquei tranquilo…

Rebaixamento de cópias

Essa foto de Eugene Smith, inspecionando uma cópia sendo rebaixada veio do livro de Joe Demaio sobre construção de laboratórios. Não há crédito no livro, presumo que seja do próprio Joe, que visitou inúmeros laboratórios de fotógrafos pelo mundo. Me corrijam se eu estiver errado. O fato é que o Eugene Smith usava muito a técnica do rebaixamento, fazia cópias mais escuras que o normal e depois ia clareando as imagens na luz até encontrar o que procurava.

Essa última semana eu também rebaixei algumas fotos com a fórmula básica do Farmer’s. O papel era o Ektalure e o resultado não podia ser pior. Pela primeira vez as fotos ficaram todas manchadas ao entrar no banho rebaixador. O incrível é que as fotos mostravam claramente o formato da tela de nylon onde elas tinham ficado secando. Ou seja, muito provavelmente a minha lavagem não foi suficiente para retirar os restos de fixador e isso provocou uma reação mais intensa do rebaixador em alguns locais, reproduzindo a superfície quadriculada da tela.

Segue um copy-paste de um artigo velho que escrevi sobre o assunto:

“No passado, fotógrafos como Eugene Smith e William Klein não tinham o
Photoshop para os ajudar a conseguir os efeitos desejados no
laboratório. Aos poucos cada um desenvolveu uma série de recursos,
técnicas e truques, para fazer o que fizeram sem a ajuda de
computadores.

Provavelmente ninguém tinha mesmo era paciência com Eugene Smith.
Existem boatos que seus negativos eram horríveis, mal expostos,
bloqueados. Só mesmo ele entraria no laboratório para às vezes levar 5
dias para copiar um negativo. Para isso ele contava com a ajuda de uma
vitrola e uma coleção de mais de 25 mil vinis. Outros boatos dão conta
de uma televisão com filtro vermelho na frente da tela dentro do
laboratório de Smith.
O fato é que para ampliar negativos horríveis existiam algumas
técnicas preciosas e Eugene as conhecia: o rebaixamento e a difusão. O
rebaixamento (feito com ferricianeto e tissulfato) cria brilhos
inexistentes no negativo, dá vida a imagem. A difusão ele usava para
apagar o grão de imagens muito ampliadas, já que volta e meia ele
tinha que recompor a imagem no ampliador.
Klein por sua vez usou a difusão para outro fim, ele inventou um jeito
de transformar as baixas luzes das suas cópias com difusão seletiva em
papéis de grão de contraste variável. Ampliando as fotos em duas
exposições, com dois filtros de contraste diferentes e aplicando um
difusor sobre o filtro de contraste mais alto, Klein conseguia que
suas baixas luzes viessem fantasmagóricas!

É isso, existem momentos em que mesmo o Photoshop deixa a desejar. E
às vezes você tem aquele papel fotográfico no laboratório que está
meio velho, esquecido no fundo da gaveta (ou comprou um Ektalure
vencidaço, desses que apareceram no balcão da Fotoplan na época em que
andou faltando papel fotográfico em Sampa). Para dar um brilho
especial a uma fotografia, gerar efeitos diferentes, bastam umas
químicas diferentes para misturar ao seu revelador fotográfico ou até
um filtro empoeirado.

A adição de brometo de potássio ao revelador do papel por si só pode
conter o véu de base formado pelo envelhecimento do papel, se isso não
for suficiente, o branqueamento do papel após a revelação pode ser a
solução. Dai a base do papel volta a ser branca, sem presença de prata
por ali.

A utilização de reveladores potentes e muito alcalinos, típicos de
processos gráficos, pode dar resultados inesperados com papéis
fotográficos comuns, grandes diluições e tempos de revelação
diferentes, um processo conhecido por ai como Lith Printing. Vale a
pena experimentar: dilua revelador de chapa gráfica para 1:20 e
experimente revelar o papel fotográfico por 30 ou mais minutos, no
escuro total (sem luz de segurança) e sem agitação.

Usando papel de contraste variável, calcule tempos para ampliação
usando duas exposições: uma para o filtro 1 e outra para o filtro 5.
Na hora de expor com o filtro 5 insira um filtro difusor, ou mesmo um
filtro UV bem empoeirado (deixe ele do lado de fora da sua janela
durante uma semana) no feixe de luz do ampliador. As baixas luzes
ficam borradas, as altas não. É um efeito que pode fortalecer bem uma
imagem.”

Microdol e Thinner

Um artigo perdido da época do FotoPro:

O Microdol (antecessor do Microdol-X), revelador grão-fino da Kodak, nunca passou de um revelador metol-sulfito ao qual foi adicionado sal de cozinha, ou cloreto de sódio. Concentrado esse revelador exigia um acréscimo de um ponto na exposição do filme, mas se você diluísse o revelador sendo 1 parte para 3 de água, e compensasse com aumento do tempo de revelação, não havia perda de sensibilidade do filme, diferente da maioria dos outros reveladores preto-e-branco para grão fino. Tudo isso por causa do sal de cozinha! Você pode tentar adicionar uma colher de chá de sal a um litro de D-23 (7.5 g de metol ou quase duas colheres de chá, 100 g de sulfito ou 5 colheres de sopa). Essa fórmula caseira deve funcionar melhor com os filmes mais antigos no mercado, como Tri-X, Plus-X e FP4. O que pode acontecer é o surgimento do véu dicróico. Se supõe que o Microdol-X encontrado hoje em dia na lojas tenha essa mesma fórmula básica com a adição de um agente para inibir o véu dicróico que aparece quando o revelador é usado com filmes mais modernos.

Da cozinha para a área de serviço: o Diabo Verde era “o desentupidor”, ficou famoso nos anos 80, nos anos 90 foi copiado por um montão de gente, faliu e fechou. Soda cáustica era o principal componente desse produto que misturado com água dissolvia quase tudo que encontrasse pela frente, às vezes até os canos, mas na fotografia a soda pode ser usada para acelerar os banhos de revelação, deixar o filme bem granulado, ou uma cópia fotográfica com pretos bem profundos, tudo isso em questão de segundos… E para conseguir soda cáustica basta ir ao supermercado, procurar na seção de limpeza pelos desentupidores líquidos ou em pó e descobrir nos rótulos quais deles têm soda em sua composição. Tome bastante cuidado com esse tipo de produto: leia todo o rótulo do fabricante, as informações encontradas ali são muito importantes! Evite qualquer contato com a pele, luvas são essenciais, e não utilize recipiente de plástico para dissolver a soda, a reação é exotérmica e o recipiente pode derreter. Dissolva o pó em água e use como solução. Uma colher de sopa em um litro de água, adicione de 10 a 20 gotas dessa solução ao seu revelador e vá testando!

Se você vai entrar de cabeça no lance da Soda Cáustica é bem provável que você precise de Brometo de Potássio para controlar o nível de véu que vai aparecer no seu filme ou papel. Senão fizer isso você além de pretos profundos vai ter uns brancos meio acizentados. Brometo de Potássio é essencial para limpar os brancos da imagem fotográfica. Na falta de Brometo de Potássio vale a pena uma visita a uma loja de material para piscinas e banheira de hidromassagem. Alguns kits para higienização da água tem como uma das partes uma solução de Brometo de Sódio. Não é Brometo de Potássio, mas funciona igualzinho (tanto para confecção de reveladores quanto para o banho rebaixador), deve ser mais barato, e você só vai precisar de 85% do peso em Brometo de Sódio para conseguir o mesmo efeito do sal de Potássio.

Mas foi procurando a informação de como substituir este último sal pelo outro é que eu acabei foleando um livro chamado “Photography in focus”. Um livro interessante, sobre técnica fotográfica, com muita informação, um dos 6 livros que são consulta quase que diária no meu laboratório.
Mas lá pelas tantas um dos autores, não sei porque cargas d’água, começa a contar que se pode transferir uma imagem de cópia xerográfica, ou mesmo de uma impressora a laser comum, do papel onde a imagem é impressa para outro papel ou superfície com a ajuda de um tipo especial de thinner.
Simples? Demais! Fui a uma loja de material de construção aqui e comprei o que é chamado de “thinner para vernizes”, não tenho certeza de como isso é chamado ai no Brasil, mas acho que qualquer coisa que sirva de solvente para verniz Sparlack tem que servir! Cheguei em casa, cortei um pedaço de papel de aquarela, apoiei numa placa de polietileno (que não derrete com qualquer coisa), pus a cópia xerox de cara para o papel de aquarela, esfreguei um pouco do solvente com um pincel nas costas da cópia, e depois esfreguei as costas de uma colher na região da imagem para fazer pressão… Quando eu levantei a cópia xerox ela ainda estava quase tão escura quanto antes, mas no papel de aquarela estava lá a imagem meio borrada, meio confusa, típica de um processo de transfer.
A transferência é direta e portanto a imagem sai invertida, você vai ter que bolar um jeito de inverter a imagem antes de fazer a cópia xerox matriz, eu fiz isso com uma cópia inicial em acetato, que depois foi colocada invertida na máquina de copiar e fiz uma cópia da cópia em papel para matriz do transfer. Se você pretende usar uma cópia de impressora laser é mais fácil, inverta a foto antes de imprimir, com a ajuda do software de tratamento de imagem que você estiver usando. Como manter o papel imóvel durante o transfer, a quantidade de solvente ideal para não borrar tanto a imagem, mas ao mesmo tempo conseguir transferir todas a imagem e mais uns outros detalhes, é tudo que você vai ter que desobrir sozinho, tentando como eu.

Véu dicróico segundo Salles

O tal véu dicróico, segundo o Rodrigo W Salles:

“Bem, que eu saiba, véu dicróico (dicróico= duas cores) é o que se forma
sobre a superfície dos filmes, após processados, quando ocorrem
determinadas condições, usualmente durante a etapa da revelação. É um tipo
de defeito que, ao exame visual, apresenta cores diferentes conforme a
incidência da luz. Por transmissão a cor varia do vermelho ao laranja, e
por reflexão é verde amarelado.

É composto por prata metálica que se deposita no lado da emulsão.

O véu dicróico é facilmente produzido em filmes de alta sensibilidade (ISO
400 pra cima), quando revelados em reveladores que contenham solventes de
prata, como sais de tiocianato.

Também pode aparecer o dito quando o filme é fixado num fixador não ácido
ou mesmo sendo ácido, que esteja esgotado. Filmes subexpostos estão mais
sujeitos ao véu dicróico por terem quantidade maior de haleto de prata não
revelado, estando os últimos portanto disponíveis para a formação do tal véu.

A melhor maneira de retirar o o diabinho, segundo os irmãos Lumière, que
investigaram o problema, é uma solução de permangantao de potássio seguida
de um banho de sulfito.”

Fuçando no passado para fazer updates no glossário encontrei isso.

Kodak Gravure Copy em 5×7″

Usei novamente o filme ISO 3 em tamanho 5×7″ que havia usado com as esculturas de alumínio. O filme é da Kodak, chama-se Gravure Copy. É ortocromático, ou seja, sensível ao azul. Pode-se usar luz de segurança com filtro vermelho durante a revelação. A caixa sugere usar o DK-50 ou o D-11 como reveladores. Eu optei pelo Agfa 108 que é o revelador de papel que eu uso. Porque revelador de papel? Ah! O filme está vencido desde os anos 70, precisa um pouco mais de acelerador para dar aquele contraste. O revelador de papel também traz bastante redutor, brometo, para limpar a base que tenderia a ficar cinza demais por conta da idade.

O resultado é interessante, com altas luzes brilhantes.

O DK-50 é um revelador para fotos de luz controlada, que pode dar bastante contraste, mas não o suficiente. Se diluido e com um pouco mais de acelerador é um ótima alternativa para revelar um Tri-X vencido.

Quimiogramas no Sesc Santana

A oficina foi super interessante, o espaço era de frente para a exposição de Barros. Pensei muito sobre os quimiogramas, uma maneira bacana de mostrar a fotografia analógica sem a necessidade de um quarto-escuro.

O fato é que as imagens fotográficas se fazem, em geral, pelos contrastes. Não existe cinza se não houver preto e branco, o olho precisa de diferenças para enxergar formas, limites, blá, blá, blá.

No quimiograma o papel começa completamente velado. Não há contraste, há uma exposição total, se for revelado o papel fica preto, se for apenas fixado o papel fica branco. Para criar meios tons há um jogo complexo de brincar com a diluição dos químicos e com o tempo durante o qual o papel fica exposto a eles (em contato). Objetos junto ao papel podem mudar o efeito do químico. A diluição pode ocorrer durante a formação da imagem.

Ou seja, no quimiograma a revelação deve introduzir o contraste na imagem, ao contrário da fotografia convencional, onde se pretende uma revelação mais uniforme que deixa transparecer os contrastes registrados na película.