Sobre fotografia • histórias de Fátima Roque

A Fátima Roque era chegada no barquinho que todo ano parte de Belém para explorar o Pará levando diversos tipos de pesquisadores, cientistas e artistas. Ela compartilhou comigo algumas pequenas histórias dessas viagens que me fazem pensar para que serve a fotografia e o que serve para fazer fotografia.

Em Cametá ela encontrou um fotógrafo local especializado em retratos. Lima mostrou para ela como fazia as fotos e onde revelava esses filmes e fotos coloridos. Seu equipamento era apenas uma Olympus Pen de meio quadro, seu laboratório consistia em alguns pedaços de cano que funcionavam como tanques verticais dentro de uma caixa. O processamento em C-41 se dava a temperatura ambiente (de Cametá). A cada cliente o Lima cortava o pedaço exposto do filme colorido numa caixa escura e já revelava a ponta direto nos tanques. Dali para um ampliadorzinho e a cópia era revelada nos mesmo tanques. E o negativo acabava arremessado sobre a laje do laboratório para mofar e apodrecer.

Numa outra parada ela ofereceria uma oficina de cianótipo e marron van dyke, terminada a oficina os pedaços de tecido com cianótipos ainda estavam molhados, ela pediu ao alunos que voltassem de tarde para buscar as fotos. Eles voltaram e encontraram ela onde os pesquisadores se reuniam. De lá começaram a caminhar até o barco para buscar as imagens em tecido secas. No meio do caminho tinha uma loja com colchas e redes, ela pediu para os alunos escolherem uma colcha e ainda comprou uma caixa de alfinetes. Chegando ao barco pediu que a colcha fosse pendurada no convés e cada aluno pendurou sua imagem na colcha com os alfinetes. Então ela pediu que cada um buscasse seus amigos, sua família e que eles voltassem ao pôr-do-Sol para a abertura da primeira exposição deles. Apareceu todo mundo de banho tomado. O Sol ainda iluminava a colcha amarela, aos poucos cada um que ia embora foi retirando suas imagens e a colcha voltou a ficar vazia. E o Sol se pôs.

Fotoativa

Fui conhecer a Fotoativa em Belém. São 24 anos de histórias. A Tília e o Miguel me contaram um cadinho delas. Hoje a Fotoativa mora em uma casa cedida pela prefeitura, uma mansão na cidade velha, com um tanto a mais de passado. A casa é do século XIX.

Eles têm um laboratório p&b, algumas salas e um grande espaço meio galeria, meio sala, com portas que dão para a Praça das Mercês, nos fundos do prédio da antiga Alfândega.

Tive a oportunidade de assistir uma aula do Miguel para um grupo de recém iniciados ao pinhole (câmaras de orifício). A aula funciona como uma brincadeira de telefone sem fio, o que propicia uma super-interação entre os alunos.

O que eu vi foi uma instituição com 24 anos bem vividos que ainda tem a energia para fazer um grupo bem heterogêneo de pessoas bricarem como crianças. Homo ludens diria Flusser. Que lugar mais acolhedor.