Retratos em raio-x

Para encerrar meu ciclo de 4 aulas no Nébula fiz uma aula sobre o uso de filme raio-x em câmaras de grande formato.

Revelamos os negativos ali na sala mesmo, com meu laboratório portátil feito de cartão e madeira.

Era um dia chuvoso, tivemos que nos posicionar bem próximos às janelas para ter luz suficiente.

O grande desafio do dia era manter os químicos na temperatura certa, sendo que dentro da sala de aula estava 15C. Além do material de laboratório, levei comigo uma grande cafeteira elétrica. Deixei ela cheia de àgua, que se manteve quente durante toda a aula. Sempre que achava que era o momento, adicionava um pouquinho daquela água bem quente aos químicos e deu certo.

Grid

Deve fazer uns dois anos que eu achei um projetor no lixo. Acho que por ele só ter uma entrada VGA deixou de ter utilidade, não havia errado com ele, nem a lâmpada estava velha (coisa que é comum). A resolução era baixa, apenas 800×600 pixels (SVGA).

Eu tinha essa ideia de fotografar alguns objetos com um grid projetado neles, sei lá, olhar para as linhas e para os limites, não sei bem, talvez seja apenas a intersecção das formas.

Mas foi essa semana que sobrou um tempo extra, tirei o carro da garagem, montei um estúdio improvisado ali, levei o projetor, liguei um laptop antigo, fiz um grid adequado. Experimentei com o tempo, com a altura do projetor, com o ângulo etc.

Fiz umas imagens com o smartphone para testar, enquanto faço uma lista mental dos objetos que pretendo fotografar.

O primeiro teste ficou escuro, é difícil fotometrar essas linhas e saber como vão aparecer num filme sensível a luz verde. Acabei optando por colocar um difusor sobre a luz da minha mesa de trabalho e deixar ela ajudar nos volumes (que é a foto que abre esse post).

Espelhamento • parte III

Lembrem que contei sobre essa exposição do projeto Actum num post anterior e disse: “…a mim interessa uma que fala do experimentalismo. Minha proposta foi então sair em busca de uma imagem desconhecida e encontrá-la quase da mesma maneira que a Ilha Desconhecida é encontrada no conto. Ou seja, fotografar uma cena que só existe enquanto o fotógrafo e câmara lá estão.”

Entitulei o trabalho de “Enquanto Estou Aqui”. A palavra “Aqui” se repete se olharmos o título do trabalho que fiz para a edição anterior desse projeto. Bom, aqui é uma enorme novidade na minha vida, se explica.

Hoje, mais cedo, abriu a exposição que ficará no Palácio do Raio até dia 25 de fevereiro.

Espelhamento • parte II

De fato eu voltei lá num dia de chuva, mas não registrei com o telefone porque o espaço sob o guarda-chuva era pouco para tanta atividade.

Uns dias depois abriu um Sol violento e voltei lá mais uma vez. A lama acumulada era funda e fiquei imundo, mas valeu a pena.

Aproveitei uma grande poça como espelho.

Reproduzi todos os negativos com minha caixa de reprodução e comecei a imaginar como juntar tantos dias e luzes distintos e como as imagens ficariam depois da impressão.

Acabei criando um grupo de 15 imagens das quais escolhi 3 para compor um tríptico. Experimentei imprimir com carbono sobre um papel matte da Tecco com 230g/m2.

E agora estou nesta etapa, em breve conto como ficaram as molduras na parede.

Espelhamento • parte I

Aqui em Braga tem um edital anual da câmara municipal chamado Actum. Esse ano o tema era o escritor José Saramago, em virturde do centenário do seu nascimento. Cada artista era convidado a se inspirar numa obra do escritor e fazer uma proposta dentro da sua própria disciplina.

O Conto da Ilha Desconhecida é meu velho conhecido, desde a época da faculdade. De um site de resenhas eu tiro 3 frases que resumem a premissa da obra:
“Um homem vai ao rei e lhe pede um barco para viajar até uma ilha desconhecida. O rei lhe pergunta como pode saber que essa ilha existe, já que é desconhecida. O homem argumenta que assim são todas as ilhas até que alguém desembarque nelas.”

Existem inúmeras maneiras de olhar para esse conto, a mim interessa uma que fala do experimentalismo. Minha proposta foi então sair em busca de uma imagem desconhecida e encontrá-la quase da mesma maneira que a Ilha Desconhecida é encontrada no conto. Ou seja, fotografar uma cena que só existe enquanto o fotógrafo e câmara lá estão.

E desde que submeti a proposta fiquei de olho nas ruas da cidade, esperando encontrar um espelho abandonado que se encaixasse nessa idéia meio vaga que eu tinha. Nesse último domingo aconteceu, logo cedo quando eu saia para ir fazer uma comprinha.

É um espelho pesado, com um suporte metálico, provavelmente parte de um móvel de banheiro ou algo do gênero. Era um dia chuvoso perfeito. Um grande terreno aqui ao lado tinha sido recentemente limpo para a expansão de um parque, fui por lá espreitar, levei o espelho e a Linhof Technika 13x18cm com filme raio-x.

Voltei dois dias mais tarde e fiz mais umas tantas chapas, agora com o dia amanhecendo. Os próximos dias são de chuva, ainda planejo voltar lá mais um bocado. Enquanto isso vou pensando em como imprimir e como montar/emoldurar.

Linhof Technika II 13x18cm • parte V

Continuo fazendo testes e vendo a melhor maneira de revelar o raio-x que tenho aqui. Na última saída por Braga, fui ao Largo da Senhora a Branca e depois ao Largo da Senhora da Boa Luz.

As fotos da Senhora a Branca foram reveladas num dia bem quente e a tentativa de encurtar o banho se provou muito equivocada. Céu escorrido, vários problemas de uniformidade.

Na revelação seguinte, mantive o tempo, mudei a diluição e o resultado apesar da temperatura alta, foi mais agradável.