Lembrança • Ouro Preto

Revelando chapas em uma casinha no meio do mato

Ouro Preto na Páscoa. Já contei o principal dessa última viagem na última coluna. Ainda tenho os cianótipos mais para frente, mas hoje falo de revelar filmes fotográficos velhos em lugares dito impróprios.
Revelar papel fotográfico é bem mais simples do que filme. O papel é tolerante com a luz que o atinge durante o processamento. Revelar negativos em papel, expostos em câmaras de orifício, pode ser feito em quase qualquer lugar. Ou melhor, assim pensava eu, que filmes de ISO 400 seriam bem mais difíceis sem a luz vermelha para ajudar e mais sujeitos à velatura em ambientes não completamente escuros.

O sítio tinha essa casinha nos fundos, com apenas um quarto, uma salinha emendada na cozinha. A cozinha era quase um laboratório pronto, vazia, com pia, apenas uma janela para vedar contra a luz. A sala tinha janelas que fechavam completamente, não eram persianas, ufa! Um pano tipo “blackout” fechou a janela da cozinha. Apaguei as luzes. Nos chassis as chapas de Tri-X vencido desde 1981, exposto como ISO 50 na câmara pinhole de 4×5″ com oríficio equivalente a distância focal de 45mm, uma super grande-angular. Na cozinha, na sala, no teto, frestas inúmeras, deixando passar muita luz. Eu via o contorno das bandejas pretas sobre a pia de mármore branco. Via portas, janelas, via o chão, as pinças também sobre a pia e meu olho nem tinha tido tempo de se acostumar com o escuro. O telhado, sem forro, uma peneira.

Resolvi arriscar, abri o primeiro chassi, o segundo, fui separando todas as chapas em uma caixa de papelão. Eu podia ver claramente as chapas mais claras contra os chassis pretos. As 16 chapas devidamente separadas, coloquei uma a uma dentro da bandeja com revelador, agitando levemente. Eu via as chapas mais claras, dentro da bandeja, uma imagem bem fraca, mas conseguia ver. Achei a quarta bendeja que eu havia levado e que estava vazia, usei para cobrir a bandeja do revelador, protengendo um pouco as chapas que revelavam ali.

O revelador era o único que eu havia levado na viagem, o Selectol, um revelador de baixo contraste para papéis, com muito brometo, o que ajuda a segurar o véu de base dos materiais fotossensíveis. Isso com certeza foi um fator que ajudou a evitar um desastre de velatura. Passei as chapas para o interruptor e depois fixei. A luminária da cozinha parecia uma mesa de luz pequena, dessas do tamanho da própria chapa 4×5″, inclinada, aparafusada na parede. Levantei uma chapa que estava já no fixador, acendi a luz e o inimaginável havia acontecido, as chapas tinham menos véu de base do que com a revelação em laboratório sem improviso. O Selectol e a exposição forte (ISO 50) haviam vencido a luz que invadia a cozinha. O Luish fotografou esse momento.

O risco se pagou e as fotos das bromélias com a pinhole ficaram ótimas. A revelação ficou suave, mas limpa. E o filme de 1981 pode ser usado de uma maneira bacana.

De Vere 504 + Elwood 5×7″ • Teste

Escolhi um negativo com detalhes nos quatro cantos e instalei a 150mm f/9 G-Claron. 


Estranho o começo com as duas manoplas do De Vere, mas logo passou. Levei a cabeça até a altura máxima, o negativo 5×7″ projetava imagem de 60x84cm na mesa. 

Reduzi para 30x40cm e puxei uma folha de papel velho e meio velado. 


Uma imagem de placas de circuitos impressos, 10s, f/16, estava tudo lá. 

De Vere 504 • Conversão para 5×7″ parte II

Ok, então vamos lá, essa é a peça que vai servir de apoio para a cabeça do Elwood e que ficará sobre a coluna do De Vere.

Depois do spray preto ficou assim e já a peça do Elwood no lugar agora que foi cortada. Detalhe dos parafusos dourados por dentro prendendo as duas coisas juntas. Depois pintei isso também. O mesmo vale para o bloco de madeira na traseira, foi pintado também.

Parece que deu certo, então fui adiante.

A pior parte foi transportar tudo de volta para o laboratório, mas o espaço estava lá vazio e coube tudo direitinho. Aqui a coluna no lugar, aguardando a montagem final.

Montei as peças do Elwood no lugar e a mola do Elwood que estava instalada na coluna no lugar da mola original aguentou o peso da cabeça muito bem.

Uma visão lateral para mostrar os últimos detalhes da montagem.

LED RGB no ampliador 8×10″

Descobri que as fitas de LEDs RGB vm acompanhadas de controles remotos que fazem eles mudarem de cor e que mesmo quando a corrente elétrica é cortada e volta, eles possuem memória e mantem a cor selecionada anteriormente, ou seja, são perfeitos para uma cabeça colorida ou multicontraste de ampliador.


Nesse primeiro teste a luz não ficou uniforme, mas já mudei o caminho dos fios e consegui melhorar a situação. Luz verde deve dar baixo contraste com os papéis de contraste variável e luz azul faz o alto contraste.

 


Ainda aguardo encontrar um pedaço de isopor para rebater os cantos e uniformizar a luz nas beiradas do negativo.

Processos Fotográficos • percurso

Hoje é domingo e o programa foi fazer junto com o Roger Sassaki e o Lucio Libanori a minha primeira emulsão de gelatina seca para cobrir chapas de vidro. A receita seguida foi a do Mark Osterman carinhosamente batizada por ele de MO-1880, um apanhado das receitas dessa década que ele destilou num processo simples e controlado, fácil de ser seguido passo-a-passo.


Comecei na fotografia antes do Natal de 1991, ou seja, já são 24 anos de laboratório P&B, mas ainda assim hoje foi um dia emocionante. Deixa eu explicar: a emulsão em gelatina, como a maioria das emulsões combina ingredientes que não são sensíveis a luz, mas que quando reagem entre si produzem outros compostos que são. Logo se deduz a primeira coisa, fazer emulsões é algo que acontece no escuro ou com luz de segurança. A emulsão que fizemos hoje aceita ser manipulada sob a luz vermelha e graças a isso pude ver o momento em que dois líquidos cristalinos se encontram e formam uma nuvem branca no béquer. Parece besteira, mas é algo tão fundamental e que eu nunca tinha compreendido completamente, até ver acontecer. Mesmo no colódio, o mesmo processo ocorre na chapa imersa no tanque de prata, mas não é visível assim. O nascimento da fotossensibilidade.

Isso me pôs a pensar nessa idéia de percurso, da pesquisa ao longo do tempo. Logo lembrei do primeiro semestre de 2011, a Simone Wicca e eu fizemos alguns testes nessa direção, mas num plano muito mais simples, aproveitando produtos prontos que estavam disponíveis, como o Liquid Light, garrafas velhas, vidros de scanners quebrados. Na época nós líamos muitos as experiências da Denise Ross no site The Light Farm, cujo link está aqui ao lado. O approach dela é diferente do Mark Osterman, ela é menos meticulosa, mais interessada em obter uma imagem; o Mark tem uma preocupação maior com a qualidade da imagem e com a obtenção de ISO mais alto, nada insano, mas há uma diferença.

Em 2011, conseguimos imagens interessantes e demos com a cara na parede algumas vezes, perfeito. Nosso projeto não foi muito para frente, uma pena. Às vezes falta tempo, às vezes outros projetos ganham prioridade, foram alguns anos para poder chegar nessa nova etapa de pensar em emulsões fotográficas. Aonde vai dar é incerto e não é importante. Importante é continuar fuçando aqui e ali, desvendar coisas e construir um percurso de pesquisas e experimentações, retomar pesquisas antigas quando aparece uma nova chance e mais que tudo, continuar a produzir imagens.