Escaneando pelo Tatuapé

A convite da FSP eu dei umas voltas pelo Tatuapé para registrar um pouco das paisagens desse bairro de uma maneira diferente. Espero que o resultado seja publicado em breve, mas ficam aqui dois registros de como isso foi feito.

Ao contrário de todas as vezes anteriores que escaneei, como dessa vez era um trabalho de paisagem que exigia um pouco mais de similaridade com o assunto, utilizei um filtro IR-UV-cut que impede que tanto infravermelho como ultravioleta cheguem ao sensor (os sensores de scanners de mesa não são protegidos contra esse comprimentos de onda).

Colex em processo

Triste ler o comentário da Juliana no post sobre a FSP.

A Colex existe desde 1971 lá nos EUA. A processadora que tenho aqui é uma Colette.

Para confundir, a Colenta também fabrica processadoras, lá na Áustria.

Até o momento o que fiz com a minha Colette foi um bom banho de mangueira e detergente nas partes laváveis. Depois penei para montar todas a partes de entrada do papel, que veio desmontada. Entender é tudo.

Um dos racks de roletes estava desmontando, demorei um pouco, mas acabei descobrindo o que ia aonde e consegui remontá-lo.

Construi um carrinho com rodas para processadora morar em cima.

Passei um tempo observando a profusão de mangueiras no interior da processadora, tentando entender o que cada uma faz. É díficil. Já providenciei o manual em PDF pela internet, mas a coisa é demorada.

A maioria dos tanques veio sem as tampas que fecham os canais de esgotamento, já descobri qual a rosca dessas tampas e vou providenciar algumas para poder fechá-los (são niples simples de meia polegada, a princípio).

Um dos roletes da máquina está com uma ponta quebrada. Isso vai ser um pouco mais complicado de consertar. Entro com mais detalhes e fotos em breve. Por enquanto fico feliz que vieram todos.

Essa foi a parte fácil. Agora começa o realmente complicado. Checar mangueiras, repor as que estiverem cortadas ou faltando (algumas foram removidas quando a máquina foi colocada de lado). Penso em limpar melhor o fundo da processadora.

Só então vou poder encher a máquina de água e ver se a parte elétrica está operacional. Não dá para ligar uma bomba d’àgua sem água no tanque. Só então os piores problemas podem aparecer. Estamos falando de um emaranhado de fios em meio a mangueiras, várias bombas hidráulicas, sensores de temperatura e movimento, ventoinhas, aquecedores de água e ar, ah! Tudo ligado em 220V.

Imagino que gastando umas 2 horas por semana até o fim do ano eu revelo alguma coisa nessa máquina.

Lab da Folha

A presença da Colex no meio do estúdio e o cheiro dentro dela me fizeram pensar em alguns eventos e personagens do passado.

Entre 1997 e 2000 eu passei um bom tempo na sala da Fotografia da Folha de S. Paulo. Eu fazia uns frilas e volta e meia me via ali esperando os filmes revelarem, esperando cópias, esse tipo de coisa. O lugar era sempre agitado. Ali conheci dois personagens em especial, o Vailton e a Luciana.

A Luciana operava um pequeno minilab (só impressora) que transformava os negativos 35mm usados pelo pessoal em cópias 15x21cm bem rudimentares. O porta-negativo havia sido recortado com uma lima para mostrar todo o conteúdo do negativo na cópia. Luciana se esmerava controlando densidade, amarelo, magenta e cian das cópias. A lente do minilab não cooperava e as fotos sempre tinham um foco que deixava a desejar, eu me sentia o único a perceber aquilo, então nunca falava nada.

Luciana era conhecida por ali pelo seu linguajar único e peculiar, que enquanto parecia uma barreira para se chegar a ela, logo se mostrava uma maneira diferente de conhecer o mundo. Ela sentada ali na máquina, voltada para a janela do lab que dava para a sala, observava a ida e a vinda de fotógrafos e mais fotógrafos, todos com suas bolsas e egos “com ou sem catupiry”.

Vailton rodava todo o setor, supervisionava tudo. Trazia consigo a experiência de quem já havia visto a passagem do p&b para o cor e por ai vai. Com ele se conseguia filme, ou seja, você trazia 6 filmes usados na pauta e entregava para ele, ele já te dava 6 virgens para a próxima. Sem filme exposto, sem filme virgem.

O lab da Folha tinha uma parte de clara que fazia a forma de um “U”, na sala de entrada Luciana e sua impressora, a saída da processadora de papel em folha, os escaninhos, no meio o estúdio e escondido nos fundos o lab de filmes.

No interior do “U” ficava um lab escuro com dois Leitz Focomat 35mm. De lá saiam pela processadora as cópias mais refinadas que a Folha Press, por exemplo, usava para vender imagens e também todos os contatos em papel 24x30cm que os jornais todos usavam para editar e arquivar suas fotos. Eu ficava de papo com a Luciana olhando o que saia pela processadora e caia na cesta. Seu som era interessante e de vez em quando não saia nada e logo alguém percebia que um papel tinha ficado preso lá no meio. Um contato importante era aguardado com ansiedade. Eram muitos contatos e no fim do dia as caixas de 24×30 vazias se empilhavam. Eu levava as caixas vazias embora e as usava para guardar os meus printfiles com meus filmes p&b revelados em casa.

Um dia, ali mesmo, ao lado do minilab, perguntei ao Vailton o que eram uma série de envelopes amarelos antigos sob a bancada que dava para os scanners do fundo da sala. Eram papéis fibra p&b do passado da Folha, papéis para ampliações 30x40cm que eram feitas ali no lab, envelhecendo ali no chão. Ganhei esses papéis de presente e com eles fiz a exposição de Osasco no CCSP (1998).

CCSPosasco02

Certa vez pedi uma pesquisa no arquivo atrás de todas as pautas que eu tinha feito por lá. Juntei uns filmes escolhidos e parti para aquele mesmo lab cor com uma caixa de papel que comprei no centro, passei uma manhã de domingo tranquilo no lab da Folha ampliando meu próprio portfolio. Vailton me mostrou o básico do lab cor e eu me virei pela primeira vez com o cheiro da processadora e o calor da chapa metálica onde se apoia o papel na hora de colocá-lo lá. As cópias saiam secas e os olhos deles dois serviam de balizas para encontrar o tom correto e as dicas de quantos pontos de magenta deveriam entrar e quantos cian deveriam sair.

carreteiro

zoo

ginasta

Lab cor é uma experiência muito prazeirosa com uma boa processadora fazendo todo o trabalho difícil. Essa vez na Folha foi a primeira, depois tive essa oportunidade uma vez no Canadá, num desses labs que se aluga por hora e depois no Senac algumas vezes nos idos de 2004 e 2005. A Colex de Uberlândia promete momentos de nostalgia num futuro próximo.

Kodabromide peso simples

Em 1998, a exposição do trabalho sobre Osasco ficou assim. O papel fotográfico usado para ampliar as cópias veio de uma pilha de envelopes amarelos antigos que estava sob uma mesa do laboratório do jornal. Eles não ampliavam p&b fazia mais de 10 anos e esses kodabromides passaram toda sua vida no ar condicionado. Foi uma supresa sensacional ver aquilo funcionando, era papel fibra peso simples, tamanho 30x40cm, tom frio.