Maresias, 25 anos atrás

Acho que foi logo depois que meu pai morreu, dois amigos me convidaram para ir acampar, eles eram do Rio e tinham essa fissura com Maresias. Era verão, mas calhou de ser uma semana de chuva e mosquitos.

Resolvi levar uma Pentax Spotmatic com umas lentes diversas e Fomapan F21 vencido para usar em ISO 25. Eu tinha começado a trabalhar no jornal, então pensei em um conjunto de fotos como uma matéria, pensei em entrevistar pessoas, um monte de idéias. No meio desses coisas, fui fotografando algumas anotações sobre esses dias que passei lá e hoje penso que isso fala um tanto do meu estado de espírito.

Lembro de aprender com os amigos a fazer Miojo dentro da sopa Knorr. Lembro que tinha um casalzinho na barraca ao lado que gastava um pote de repelente todo fim de tarde após o banho e o cheiro deles deixava a gente protegido ali ao lado. Lembro de conhecer um figura que fazia pranchas de surf por lá e aprender com ele como era a sequência das camadas e dos polimentos.

A chuva inundou a barraca uma noite, encurtou o acampamento, na manhã seguinte embalei minhas coisas e vim voltando sozinho para casa. Curtindo a viagem.

Pela BR-101 (Piaçaguera) passando por Cubatão vi o céu plúmbeo, nuvens baixas, a vegetação molhada, um pouco de chuva. Que lugar lindo! Não tenho uma foto sequer, nunca consegui passar numa velocidade adequada, uma pena.

Mais um rolo de Fomapan, talvez o último

Outro dia o Clemente me presenteou com um achado maravilhoso, um Fomapan 120 vencido daqueles que vendiam na Cinótica em 1992. Naquela época o filme já estava esquisito e a tinta dos números no backing paper já marcava a emulsão, um desastre adorável.

E das sucatas do Celso Eberhardt que eu tenho ressucitado para colocar à venda veio uma Rolleiflex com uma Planar f/2.8 muito interessante. A câmera parece ter uma história bem animada e ainda vai longe.

Me pareceu uma combinação interessante testá-la com esse filme. Abrir o papel alumínio do Fomapan me levou de volta 25 anos, o cheiro peculiar desse filme é inesquecível. Ainda não tive coragem de jogar fora a caixinha e a bula do filme…

Celso e eu saindo do almoço, eu ofereço a câmera: “Quer fazer uma foto?” Ele diz: Não, faz você, esses topos do prédios aqui.” e aponta. Pronto.

Saimos do Largo do Café, andando em direção à Sé e mais uma no caminho.

E de volta à oficina uma última imagem.

Cezanne • Operando

Depois de várias tentativas, acabei começando do início novamente. Parti para uma limpeza interna do scanner (com aspirador de pó) e depois apliquei óleo nas partes móveis. Os avisos de erro foram embora.

Recortei em acrílico uma máscara para os negativos e fiz um teste, sem o acrílico original que não estava muito bom.

Aqui um desses testes, de uma série de imagens com Fomapan vencido em 1991, fotografado em 2011, depois de mofar 20 anos.

 

sanfran01