Planejando uma câmara para 2023

Esse início de ano eu encontrei uma câmara Super8 no lixo. Estava partida ao meio, mas não parecia ser algo muito grave. Me debrucei sobre ela numa tarde de sábado e consegui consertar o mecanismo. A queda deixou suas marcas, mas tudo voltou para onde deveria, não tenho filme para testar. O episódio me fez abrir minha caixa de ferramentas e serviu de inspiração.

Desde então, três câmaras distintas habitam a minha imaginação: uma câmara 120 para usar o filme infravermelho que vem do Brasil, uma câmara panorâmica baseada nas ideias do Marco Kröger com a Exa, por fim uma câmara-scanner feita para realizar a varredura automaticamente.

A câmara 120 parece uma ideia razoável já que poderei fazer uma boa quantidade de filme 120 infravermelho. Já consegui bobinas e papéis de filme 120 com um laboratório aqui em Portugal e vou fazer os filmes como já mostrei aqui no passado. Ao longos os últimos anos eu vendi tudo que eu tinha que servia para filme 120. Ano passado em Bièvres, eu peguei uma Dacora e uma Coronet Flashmaster, ambas 6×6, além de uma Diana, mas não é exatamente o que eu tinha em mente. Pensei até em instalar a objetiva Mamiya 65mm na Dacora, isso poderia ser interessante.

A câmara mais complicada das três ideias é a Exa Panorâmica. Já falei do passado do porque converter uma (nesse caso duas) Exa. A Exa é muito boa para isso, já que o espelho é o obturador e os controles ficam de um dos lados e nada disso precisa ser estendido, apenas a caixa do espelho, o corpo e o espelho/flap. Revisitei o site do Marco Kröger para olhar sua ExaRama (o link está nesse outro post). Eu até escrevi um email para ele, mais ainda aguardo resposta. Num dos vídeos ele corta as peças com um arco simples, usa uma lima para dar o comprimento correto de cada ponta e depois solda as peças com um ferro de solda simples.

Câmaras panorâmicas em geral são do tipo rangefinder (Hasselblad XPan é o grande exemplo) ou tem uma objetiva que gira (Widelux e Horizon). Um projeto interessante de rangefinder é a FauxPan, relativamente fácil de fazer, mas depende de uns itens mais caros. Não consigo pensar numa panorâmica reflex que tenha sido feita em série. A solução do Marco Kröger é genial nesse sentido e dá uma versatilidade incrível ao resultado. Não me leva a mal, já tive uma Horizon Kompakt e adorava aquilo!

Relendo aquilo que eu tinha escrito aqui, me perguntei se seria possível fazer isso com filme 120, visto que ela já resolvia a questão inicial relativa ao filme infravermelho. Ao invés de construir uma nova câmara de médio-formato e ficar pensando em fazer outra para panorâmicas, aproveitar uma Hasselblad emprestada é muito mais simples. Joguei umas palavras-chave no Google e acabei descobrindo o site de um fotógrafo chamado Lou Zurn. O Lou também percebeu a versatilidade do conceito de uma panorâmica reflex, mas a solução dele foi um tanto mais simples: modificou um back 12 da Hasselblad para 28x56mm, fazendo 24 fotos num rolo de 120. Talvez o resultado final seja maior e mais pesado que a ExaRama do Marco Kröger, mas não envolve habilidades tão complexas na oficina. Talvez a Mamiya 65mm no lugar da objetiva da Dacora e uma máscara 28x56mm resolva essas duas em uma.

A câmara scanner pode ser uma boa ideia se não incluir muitas peças complicadas de fazer ou que necessitem ser impressas, por exemplo. Recentemene o PetaPixel postou mais uma vez sobre uns caras que fizeram câmaras usando scanners da Epson. Se você seguir os links e for fuçando, você acaba chegando ao Flickr do Dario Morelli. Aqui tem bastante informação interessante e algumas idéias geniais!

Minha impressão é que os caras usam scanners Epson provavelmente para tirar proveito dos 16-bits por canal. Mas os Epson atrapalham muito na questão do funcionamento porque fazem calibrações automáticas por si só. Minha primeira reação foi pensar que seria mais fácil com um outro scanner, como os HP que eu uso nas minhas câmaras-scanner. Me arrisco a ter problemas com imagens de 8-bits por canal. Mas será mesmo ruim? Tudo que eu fiz com scanners-cameras até agora foi com 8-bits… o que não quer dizer que seria bom.

Me parece que é essencial manter o CCD paralelo ao plano de foco durante a varredura. Me agrada a ideia de fazer um alvo branco retrátil do lado de fora, para facilitar a calibragem, mesmo que esporádica. Os caram fizeram uma câmara com uma lente de projeção fixa e outra com baioneta Mamiya 6×4,5. Eu talvez precisasse fazer a câmara com um fole para poder usar lentes de ampliação ou de câmara de grande formato: 50mm EL-Nikkor, 60mm Bogen, 75mm EL-Nikkor, 65mm Mamiya-Press, 105mm Topcon, etc.

Por hora, fico aqui, ainda pensando no que farei.

Filme gráfico em formato 120 • rebobinando um pouco mais

Ainda tinha um outro rolo de filme gráfico guardado, não sabia e ainda não sei exatamente qual. É da IBF, mas pode ser PSD ou UR, enfim…

Usando meu gabarito cortei mais de uma centena de tiras de 6x84cm, sobrou esse pedaço acima do miolo do rolo, que em geral está marcado pelo papelão, então ok descartar. Com o auxílio da luz de segurança a operação de corte é mais fácil, já pesquisei a luz correta para usar com o filme infravermelho, mas ainda não fiz um teste de fato com o tal LED verde.

O gabarito ficou muito bom mesmo, as tiras carregam na espiral facilmente. É importante também manter o pulso firme e o estilete no mesmo ângulo ao cortar a tira.

Ao longo de uma semana fui rebobinando essas tiras em papel 120 usado. Deixei duas tiras expostas numa sessão enquanto rebobinava outros filmes, assim pude saber quão ruim era o efeito da luz de segurança para esses filmes. Quinze minutos deixou um véu suave, nada dramático, mas afetou a imagem.

Abaixo um filme sem velatura e o filme que ficou 15 minutos exposto. O teste foi com um tempo muito longo, mas algumas tiras entraram e sairam do saco preto a semana toda, cumulativamente receberam bastante luz.

Ainda não sei se é PSD ou UR, mas pouco importa, exposição e revelação parecem muito próximos do outro rolo que rebobinei.

Filme gráfico em formato 120 • Ampliação

Logo que eu vi os contatos desse filme me encantei com essa imagem. Há uns 9 anos eu tentei fazer a mesma imagem em 8×10″, mas encontrei umas dificuldades com o filme colorido que eu usava na época. A exposição de 1 segundo garante que a espuma das ondas quebrando nas pedras vire uma massa branca, no filme de 2009 isso não ficou tão interessante.

O filme de 2019 em si trouxe algumas marcas e pequenos mofos que ficam mais visíveis na cópia de 80x100cm. O contraste exacerbado do filme ajudou o papel dos anos 80, o revelador que eu misturei também, uma variação do GAF 110 com menos sulfito, para arriscar um pouco de revelação infecciosa. Não apareceu tom de lithprint, mas ficou bem frio como Kodabromide deve ser, apesar de ter apenas hidroquinona no revelador.

Para projetar a imagem enorme, deitei a cabeça do ampliador numa prateleira e prendi o papel na parece oposta com clipes fortes!

Revelei na calha e o tempo longo da hidroquinona sozinha foi bem proveitoso para evitar excesso de manchas.

Nessa segunda imagem expus o papel ainda mais, cortei o tempo da revelação um pouco também, as bordas das áreas escuras parecem mais o efeito do lithprint, ou seja, houve mais revelação infecciosa.

Ainda falta o refile das bordinhas, acertar as cópias no esquadro, mas para um papel vencido há 30 anos, ter detalhes em branco já é uma vitória enorme.

Filme gráfico em formato 120 • primeiras imagens

Em agosto de 2018 eu contei como rebobinei filme gráfico PSD da marca IBF em bobinas de filme 120 para usar em câmeras de médio formato.

Bom, aproveitei o início do ano para fazer alguns testes com esse filme. O PSD é um velho conhecido, era muito usado pela turma da faculdade para fazer internegativos de imagens que seriam copiadas em processos históricos (cianotipia, marrom van dyke, por exemplo). E esse rolo era daquela época!

Eu já sabia que na luz do dia o ISO 6 seria uma boa escolha. Nos anos 90/00 nós revelávamos o PSD em Dektol diluído 1:6 ou 1:12 numa tentativa (muito ruim) de conter o contraste inerente à emulsão com materiais fáceis de encontrar.

De lá para cá eu fiquei sabendo da fórmula do Soemarko LC-1 no livro do Christopher James. Quer bisbilhotar a fórmula, ela é discutida nesse post aqui.

Graças à possibilidade de acender uma luz vermelha durante a revelação, eu pude acompanhar o aumento da densidade e quando achei que estava bom passei o filme adiante para o interruptor.

Como eu mostrei no post de agosto, o filme estava guardado em local úmido e ficou colado em si próprio em alguns pontos. Quando isso ficava claro durante o processo de rebobinar, eu marcava a bobina com um asterisco, para referência na hora da foto.

O que eu não pude ver na luz vermelha enquanto rebobinava eram os pontos de mofo no filme que ficaram evidentes após o processamento, lindos!

Filme gráfico em formato 120

Em junho do ano passado eu já tinha começado a investigar na possibilidade de colocar filme gráfico (filme para imagesetter infravermelho) em bobinas de filme 120 para usar em câmeras de médio formato. A idéia era experimentar esse filme desconhecido de uma maneira que fosse mais fácil controlar a questão do foco da luz infravermelha.

Tive um sucesso inicial ali, mas depois acabei não tendo tempo de fazer mais bobinas com aquele filme e o projeto ficou de lado um pouco. Essa semana me deu vontade de continuar quando lembrei que tinha uma ponta de um rolo de um outro filme gráfico, o PSD da Indústria Brasileira de Filmes (IBF). A única diferença aqui é que eu poderia usar a luz de segurança enquanto cortaria o filme com estilete, mas acho que isso faria toda a diferença.

E fez, em uma noite consegui fazer 29 rolos de filme 120 a partir de aproximadamente 5 metros de filme PSD de 35cm de largura com manchinhas e alguns problemas causados pela umidade. Agora vou estudar uma maneira de fazer isso com o filme infravermelho, parece que uma luz verde pode ser usada com ele.

Mais um rolo de Fomapan, talvez o último

Outro dia o Clemente me presenteou com um achado maravilhoso, um Fomapan 120 vencido daqueles que vendiam na Cinótica em 1992. Naquela época o filme já estava esquisito e a tinta dos números no backing paper já marcava a emulsão, um desastre adorável.

E das sucatas do Celso Eberhardt que eu tenho ressucitado para colocar à venda veio uma Rolleiflex com uma Planar f/2.8 muito interessante. A câmera parece ter uma história bem animada e ainda vai longe.

Me pareceu uma combinação interessante testá-la com esse filme. Abrir o papel alumínio do Fomapan me levou de volta 25 anos, o cheiro peculiar desse filme é inesquecível. Ainda não tive coragem de jogar fora a caixinha e a bula do filme…

Celso e eu saindo do almoço, eu ofereço a câmera: “Quer fazer uma foto?” Ele diz: Não, faz você, esses topos do prédios aqui.” e aponta. Pronto.

Saimos do Largo do Café, andando em direção à Sé e mais uma no caminho.

E de volta à oficina uma última imagem.