A Exa e seu espelho que serve de obturador

Há uns dias eu inclui um link nessa lista lateral, sob o nome de Panorâmica Reflex. É um link para um site sensacional que detalha o trabalho de dois alemães, um deles o responsável por essas modificações de câmeras Exakta para formato panorâmico e foi isso que me fez lembrar das Exa. Vale a pena conferir.

Mas antes, uma digressão sobre esse modelo das Exakta, a CameraPedia abre o verbete da Exa com a seguinte frase: “The Exa is a 35mm SLR developed by Ihagee, and is a simple but reliable version of the Exakta.” Uma câmera simples e essa definição não poderia ser mais verdadeira. O design da Exa foi simplificado com a decisão de transformar o espelho em parte do obturador e isso diminuiu muito a quantidade de partes móveis que precisam ser acionadas pelo mecanismo de disparo da câmera. Quando a Exa é disparada o espelho começa a subir e expõe o filme, logo uma outra peça sob o espelho sobe também e esconde o filme. O sistema não é tão preciso quanto um obturador de cortina, nem pode dar uma gama tão grande de velocidades, mas para uma câmera mais barata ele é bem eficaz. Vale ler esse artigo no Camera Quest também.

Quem acompanha o blog há mais tempo, talvez tenha visto posts que fiz sobre duas Exas modificadas que eu possuía. Bisbilhotei longamente as modificações que fizeram nessas câmeras e cheguei à conclusão que a simplicidade da câmera é a razão da sua escolha para essas finalidades. Não foi diferente, quando o Marco Kröger resolveu fazer uma panorâmica ainda mais versátil, depois de ter usado o modelo Varex nas suas primeiras câmeras, ele se virou para a Exa e não teve que lidar com a modificação de mais um obturador de cortina.

Horizon Kompakt • hacks no escaneamento

Os negativos da Horizon são mais compridos que o normal, mas usando o software TLX é possível fazer o Pakon degluti-los sem reclamar muito (só um pouco).

Os arquivos resultantes tem em torno de 2000×4900 pixels, nada mal pensando num scanner antigo e a qualidade da imagem (foco no grão, contraste herdado do filme original) é muito boa. O procedimento de ensinar esse novo formato ao aparelho envolve definir através de uma interface bem antiga as dimensões dos negativos, seu espaçamento na tripa de filme e o crop que o scanner vai realizar, para o Pakon ser capaz de localizar as imagens automaticamente.

As imagens são de uma caminhada pela manhã de domingo em São Paulo que o Washington Sueto começou a organizar recentemente. Nesse dia começamos às 6h30, perto do Mercadão.

Nessas duas últimas imagens ainda era muito cedo e até a iluminação da cidade ainda estava acesa, optei pela velocidade mais baixa do obturador da Kompakt que é de 1/2 segundo de exposição. Foi tudo bem apesar de não ter levado tripé.

Horizon Kompakt • hacks

A Horizon Kompakt é uma câmera panorâmica produzida pela KMZ e vendida pela Lomography. É o modelo mais simples de toda a linha Horizon.

O rompimento dos filmes 35mm durante o avanço tanto nas Kompakt como nas Perfekt é comum e uma coisa que fica clara rapidamente é que os sprockets da Horizon são muito fáceis de emperrar. A sequência de engrenagens que faz o contador funcionar contribui para esse problema e qualquer falta de lubrificação do contador consegue parar o movimento do filme.

Para começar, vale ver esse post aqui que mostra a montagem de uma Kompakt, não precisamos desmontar tanto, só tirar a frente de ABS.

Com a câmera sem as coberturas de plástico ABS é fácil ver do lado do disparador esse grupo de 3 engrenagens. Ao girar o contador de frames para trás, as 3 engrenagens devem se mover livremente, caso contrário, um pouquinho de desengripante e depois uma graxa nova são a solução.

Foto acima: desengripante no fundo de tudo que corre por dentro do takeup spool pode ser uma boa idéia também.

Abaixo, sequência da remontagem, caso vc tenha tirado a parte de ABS traseira, mas não é necessário fazer isso para engraxar a engrenagem do contador:
Primeiro a tampa traseira (cuidado para não perder os pinos/eixos, eles são soltos da tampa).
Segunda e terceira foto, gerenciando a instalação do botão disparador, cuidado para não arrancar ele na remontagem.

Fiz em madeira uma peça parecida com o adaptador de tripé da Manfrotto. Adicionei duas lascas de madeira mais dura nas superfícies que recebem mais pressão. Deixei secar de um dia para o outro. Preparei as superfícies do fundo da câmera e do topo do adaptador para a colagem com Araldite. Usei 4 parafusos pequenos para fortalecer essa junção.

Adaptador no lugar, cola escorrida, visor limpo por dentro (ah!), avanço do filme bem facinho, que delícia.

ULF • Primeiras saídas

Depois dos chassis ficarem prontos, ainda finalizei uns detalhes que faltavam nas traseiras 30x40cm e 40x50cm (a 20x50cm estava pronta). Reuni todo o equipamento no case de madeira e fui para a rua experimentar os três formatos de uma única vez.

O kit básico nessas saída ficou assim: câmera no case de madeira com as 3 traseiras, tripé Mako, sacola xadrez com os chassis de filme, bolsa Alhva com objetivas e acessórios. Uma mochila com outros itens. Nessa foto a câmera tem a objetiva Protar 183mm f/18 que exige muito pouca extensão do fole e cobre os 30x40cm sem problemas, uma super grande angular rectilinear do início do século XX.

Nessa imagem a Kodak 500mm f/10 Ektanon Duplicating (lente para fotolito) com obturador tipo TP. Detalhe para a tábua central da base da câmera que permite o foco da objetiva deslizando sob a pressão da lâminas de alumínio para frente e para trás.

Na Rua Rio de Janeiro usei o formato 20x50cm na vertical sem problemas. A traseira da câmera é quadrada e todos os despolidos podem ficar em qualquer orientação, isso também permite mudar o lado para o qual se puxa o darkslide do chassi, isso foi muito útil na primeira foto porque tinha uma vidraça colada no lado direito da câmera e depois no Tatuapé também, por conta de um mamoeiro que ficava perto da posição da câmera.

No Viaduto 9 de Julho, com o tripé alto cabe quase tudo sob a câmera, isso dá um pouco mais de tranquilidade fotografando sozinho na rua.

Aqui sobre a passarela de acesso ao Terminal Bandeira ao final do terceiro dia, o cansaço começando a bater, foto do filho mais velho que veio ajudar.

Vencendo o cansaço, ainda achei energia para bater um contato do primeiro negativo. Coloquei uma bobina 35mm ali no canto para dar a dimensão da imagem.

Essa foto no Tatuapé no quarto dia mostra um detalhe interessante que são os rasgos na base da câmera. Eles permitem que a parte traseira da câmera seja posicionada aqui na frente para fotos com grande angulares, evitando que a base apareça nas fotos.

Aqui nessa foto na Móoca dá para ver o kit todo novamente na quarta saída. Atenção para os dois clipes que seguram o fole esticado sempre que a objetiva usa pouca extensão.

O fato é que esse equipamento é muito pesado. No primeiro dia cheguei a pensar que fosse desistir, depois de puxar a caixa pra fora da mala do carro pela primeira vez. Dai logo acostumei e peguei o jeito.

Em Julho de 2011, depois de ver fotos onde eu aparecia arrastando minha caixa de lona com a 8×10″ pelas areias de Ubatuba, Fátima Roque escreveu o seguinte: “Não falo da máquina, da fotografia do século XIX, do esforço, do carregar equipamentos pesados…etc, etc, etc. Coisas que por si gerariam horas de conversa calcadas no primeiro impacto. Falo da atitude. Do que está por trás desse fotografar, da liberdade de poder fazer, da estranheza, do fazer pensar: por que alguém no século XXI tem tanto trabalho para apertar um botão? Falo do ato e do prazer em fazer. Do imediatismo e do contemporâneo. Coitado desse tal contemporâneo, tão maltratado na raiz. Virou outra coisa repetida por quem apenas ouve sem refletir.”

Apresentei esse e-mail no grupo de estudos hoje, era nosso primeiro encontro e a proposta hoje era começar uma discussão sobre até é viável levar a fotografia analógica nesse mundo digital.

As Câmeras Renzo

Qual não foi o meu espanto ao ver dois trambolhos muito interessantes na vitrine da loja Angel no centro de São Paulo esses dias. Me aproximei cautelosamente e li os dois cartões, um sobre cada câmera:

“Câmera Renzo – Artesanal
•Formato Panorâmico 24×70
•Filme 35mm
•Lente 35mm f/3.5”

E na outra câmera:

“Câmera Renzo – Artesanal
•Formato Panorâmico 55×184
•Filme 120
•Lente 75mm f/3.5”

Fui até o balcão e pedi informações sobre as câmeras e seu construtor, dono, etc.

O Claudio me contou do Sr. Renzo e se ofereceu para nos colocar em contato. Retornou pelo telefone alguns dias depois e marquei um encontro com ele lá na Angel mesmo onde estavam as câmeras.

O início de nossa conversa foi um pouco tensa, acho que o Sr. Renzo estava muito curioso para saber porque tanto interesse pelas suas câmeras. Comecei então a mostrar algumas imagens no meu celular, fotos de projetos, de coisas construídas e de idéias ainda sendo matutadas.

renzo guerin

Um pouco mais tranquilo, o Sr. Renzo me contou um pouco de sua história. Engenheiro aposentado, filho de uma italiana e um decendente de franceses, Sr. Renzo lembra da sua participação no XI Salão Internacional de Arte Fotográfica na Galeria Prestes Maia em 1952 ao lado de Geraldo de Barros, German Lorca, Eduardo Salvatore, Francisco Azsmann entre outros.

O Sr. Renzo começou cedo a construir coisas, incentivado pelo pai que também foi engenheiro, construiu seu primeiro ampliador aos 15 anos usando uma câmera 6x9cm francesa. Me contou que a grande inspiração sempre foi a falta de dinheiro, diz ele sorrindo. “Não pode comprar, tenta fazer”. Nessa anos todos fez diversas coisas, desde mais ampliadores, uma câmera pinhole em madeira e uma câmera tipo field de formato 6x9cm também.

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Note bem o marginador feito de chapa de metal e imãs. Dá um ótimo aproveitamento do papel para imagens sem margem.

Já as câmeras panorâmicas são projetos bem mais complexos. Instruções de uso de ambas estão em adesivos espalhados pelas superfícies das câmeras, faça ajudar a memória.

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Essa é a vista traseira da câmera 35mm com o takeup spool prateado do lado esquerdo, as guias do filme douradas no centro.

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Esse disco do topo serve para armar o obturador periférico e o botão no centro dele controla o diafragma.

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Pela frente se vê uma fenda e a objetiva escondida ali atrás. A tampa (visível na parte inferior) precisa ser fechada para armar a câmera.

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Esse é o obturador em ação:

A câmera 120 é um pouco maior, tem a frente em couro para a objetiva se movimentar.

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O visor de arame ajuda na composição e também serve como alça.

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As etiquetas continuam lá!

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A traseira.

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Um detalhe da madeira no fundo da câmera que foi usinada para formar o trilho por onde se movimenta a objetiva quando esta gira.

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Com a câmera 120 o Sr. Renzo conseguiu fazer uma ampliação com 2 metros de comprimento. Ele considera o resultado muito bom, a boa nitidez da câmera se deve ao fato da fenda só usar o centro da imagem projetada pela objetiva e das velocidades serem muito altas evitando borrões.

As câmera ficarão por tempo indeterminado na vitrine da Angel na galeria da Rua 7 de abril, 125, a visita vale a pena!