Lembrança • RWS

Quem primeiro me vem à mente quando cito as técnicas-lixo é o Rodrigo Whitaker Salles, fotógrafo. Rodrigo é mais velho que eu, e eu educamente nunca perguntei o quanto. Ele já foi presidente do Fotocineclube Bandeirantes, ou seja, vem de um ambiente onde durante muito tempo se discutiu a técnica fotográfica. Não é a toa que ele é grande conhecedor de diversos equipamentos e chegou até a trabalhar na Edict que fazia fotoquímicos. Para mim, o mais importante do conhecimento do Rodrigo é que são informações de outra época, ou seja, outro ponto de vista, outra relação com as coisas, ele começou a fotografar quando ainda se dava alguma importância para os conhecimentos do fotógrafo em relação ao equipamento. Quando ainda se via o equipamento como algo que deveria ser dominado pelo fotógrafo. Rodrigo faz isso.

Foi ele que me ensinou, por exemplo, a fazer fotos panorâmicas com minhas câmaras de grande formato, e ainda “economizar” filme. Esse método consiste em cortar um darkslide no meio de modo a permitir que apenas metade de cada chapa seja exposta de uma vez. Me abriu as portas para esse formato novo, o “dois por cinco”, ou o “dois e meio por sete”. Curiosamente um dia encontrei ele no vão do Masp, onde ele fotografava com os restos da Bender dele, uma lente 47mm e os tais darkslides cortados.

Quando falamos de pinhole, foi ele quem me ensinou uma outra coisa: usar o ampliador para medir os tamanhos dos orifícios usados nas câmaras de latinha. Com uma folha de sulfite, uma regra plástica transparente e um lapis é muito fácil calcular o tamanho de um orifício emum ampliador, basta posicionar a régua no portanegativos, e com a lâmpada ligada fazer dois riscos que equivalem a um milímetro, depois troca-se a régua pelo alumínio com o furo e mais dois riscos onde se projeta o círculo, no que equivale ao seu diâmetro. Com a própria régua agora se comparam as duas distâncias, e por regra de três se chega ao tamanho do orifício.

Essas duas dicas são subversivas, se observadas sob o ponto de vista do que cada ferramenta dessas é projetada para fazer. O ampliador é feito para ampliar, e não para medir. O darkslideé feito para esconder, e não para mostrar. Isso aos olhos de Flusser é um passo em direção da expansão do programa.

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