“A fotografia para mim é um processo de gravura. Defendi esse pensamento quando tentei introduzi-la como categoria artística, na 2ª Bienal de São Paulo. Acredito também que é no “erro”, na exploração e domínio do acaso, que reside a criação fotográfica. Me preocupei em conhecer a técnica apenas o suficiente para me expressar, sem me deixar levar por excessivos virtuosismos. Sempre trabalhei com uma câmera Rolleiflex, de 1939, que me possibilita duplas ou mais exposições do filme, o que me permite compor quando fotográfo. Acredito que a exagerada sofisticação técnica, o culto da perfeição técnica, leva a um empobrecimento dos resultados, da imaginação e da criatividade, o que é negativo para a arte fotográfica.
O lado técnico não faz senão duplicar nossas possibilidades de descoberta. Não sou pintor senão no momento de bater a fotografia, de escolher meu ângulo, meu plano. Em seguida, durante todo o tempo em que a objetiva funciona, eu faço um trabalho de composição independente do que escolhi como assunto, no qual o único guia é o ritmo, o contraponto, a harmonia plástica. A fotografia abstrata pode atingir alturas musicais.”
Esse texto de Geraldo de Barros foi publicado no livro Fotoformas, lançado junto a exposição do fotógrafo no MIS de São Paulo, em 1994. Tenho lido diversas coisas pensando na oficina que começa amanhã. Só me pergunto porque tantas negativas quanto ao conhecimento da técnica fotográfica. Qual teria sido o grande problema que Geraldo enfrentava aqui? Porque deixar tão claro que ele não conhecia tanto a fotografia? Coisa do lado pintor? Estava se sentindo engolido pela caixa preta? Claustrofobia?