Nem tive muito tempo de ficar chateado com um engravatado que cancelou um trabalho grande que eu estava fazendo. Um amigo me ligou pedindo ajuda. Ontem seu pai teve o mesmo fim da Francesca Woodman. E eu entendo tão bem porque fotografar nesses momentos, usar a fotografia para entender melhor esses processos, uma vida que se vai. E nessas horas, é engraçado como recorremos ao que nos é mais familiar, àquilo que usamos desde que aprendemos a fotografar. Meu amigo me pediu ajuda para comprar filmes preto-e-branco, iso 400, e me perguntou como tinha sido fotografar a doença de meu pai.
Fotografar não foi nada. Olhar as fotos depois é que foi e é intenso.
Lembrar da fotógrafa que viveu até os 22 anos de idade não é coincidência. Seus olhos claros sempre contrastados nas cópias em preto-e-branco e os olhos do pai do meu amigo: escuros, sempre distantes, densos. Pensei muito nela em Paranapiacaba, recentemente. Me despi em um galpão abandonado, feito de telhas de zinco, com chão de terra, em autoretratos. Lembrei das também ruínas onde ela posava para si mesma, me coloquei um pouco em seu lugar, agora só penso em voltar lá.

Deixe um comentário